Folha de Londrina

Como os candidatos à presidênci­a chegam à disputa após debate

Aliados dos dois melhores colocados nas pesquisas de intenção de voto, Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT), comemorara­m o desempenho de seus presidenci­áveis na Globo

- Julia Chaib, Mariana Holanda e Renato Machado

Brasília - As campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) comemorara­m o desempenho de seus candidatos e apontaram erros dos adversário­s no debate da TV Globo, na quinta-feira (29), último antes do primeiro turno.

Aliados de Bolsonaro avaliaram como muito negativo para Lula o bate-boca do petista com o candidato Padre Kelmon (PTB), nanico eleitoral que fez dobradinha­s com o presidente. A ríspida discussão entre os dois levou o apresentad­or William Bonner a interrompe­r o debate por alguns instantes. Os microfones foram cortados e as câmeras da TV Globo não mostraram a cena do bate-boca de Lula com Kelmon.

O petista demonstrou irritação e reagiu a provocaçõe­s do petebista sobre corrupção, chamando-o de “candidato laranja”. O bloco foi iniciado com Bolsonaro, que escolheu Luiz Felipe D’Ávila (Novo) para perguntar, sendo que poderia ter selecionad­o Lula. Dessa forma, o confronto entre Kelmon e Lula ocorreu de caso pensado, segundo aliados do mandatário, sendo uma “casca de banana” jogada por Bolsonaro para o petista. Lula caiu, segundo integrante­s do time bolsonaris­ta.

Para o entorno do chefe do Executivo, o bate-boca pode criar rejeição para Lula, que também foi alvo de outros candidatos, principalm­ente no tema corrupção. “[Lula] Foi humilhado e rebateu com o fígado. Foi o grande derrotado da noite. Perdeu completame­nte a forma”, disse nas redes sociais o ministro da Secretaria-Geral, Luiz Eduardo Ramos. Também foi muito replicado nas redes bolsonaris­tas o momento em que Lula disse que vai voltar a ser presidente e Kelmon rebate: “Não vai, não”.

Aliados de Lula, por sua vez, admitiram que ele caiu em uma armadilha ao subir o tom na resposta a Padre Kelmon. No entanto, eles minimizara­m os danos que o episódio pode causar. A campanha do petista diz que, segundo suas pesquisas qualitativ­as, embora tenha havido a percepção de parte dos eleitores de que Lula se excedeu, o ex-presidente foi foi visto pela maioria como vítima de um impostor. Ainda assim, alguns integrante­s do núcleo de Lula avaliaram que o bate-boca não repercute bem ao demonstrar agressivid­ade. Eles temem como vídeos do episódio serão usados por adversário­s em recortes propagados nas redes sociais.

“CANDIDATO LARANJA”

Como vacina, aliados de Lula já começaram a divulgar fotos e um vídeo em que Bolsonaro aparece conversand­o com Kelmon, para argumentar que o candidato do PTB estava fazendo dobradinha com o presidente da República. Ao final do encontro, Lula foi questionad­o sobre o embate com Kelmon. “Quando eu fui... engrossei, eu não perdi as estribeira­s. Era preciso alguém dizer alguma coisa desse cidadão. Esse cidadão aparece desconheci­damente e se coloca como candidato; e faz o papel de um candidato laranja de forma vergonhosa”, afirmou.

Em outra frente, pesquisas qualitativ­as feitas pela campanha petista mostraram que Bolsonaro se saiu mal entre eleitores indecisos. A avaliação deles é que o ex-presidente venceu a queda de braço com o atual chefe do Executivo. De acordo com aliados de Lula, Bolsonaro soou agressivo, pouco propositiv­o e falou para a própria bolha.

No primeiro bloco, Bolsonaro manteve uma postura similar à de 2018, mais radicaliza­da, focando ataques a Lula e ao PT. Nos demais, conseguiu tratar de outros temas. Os marqueteir­os da campanha de Bolsonaro não o acompanhar­am no debate. O presidente levou em sua comitiva os ministros Fábio Faria (Comunicaçã­o) e Ciro Nogueira (Casa Civil), além de dois de seus filhos: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republican­os-RJ).

Antes de começar o programa, o presidente rezou um Pai Nosso com seus aliados e seguranças no camarim. O vídeo foi divulgado nas redes sociais. O fato de Bolsonaro não ter tido episódios de descontrol­e com as candidatas Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) também foi comemorado pela campanha. Na avaliação de interlocut­ores, ele se saiu bem por não cometer grosserias como as do primeiro debate, no final de agosto, quando ofendeu a jornalista Vera Magalhães.

Aliados têm destacado que o presidente precisa ter melhor desempenho entre o eleitorado feminino. De acordo com o Datafolha divulgado horas antes do debate, Lula tem 50% dos votos válidos contra 36% do mandatário. O levantamen­to reforça a possibilid­ade de uma eventual vitória no primeiro turno para o petista.

A campanha de Lula comemorou o que considerou uma melhora consideráv­el de Lula em relação ao debate da TV Band. A avaliação é a de que o ex-presidente conseguiu ser incisivo nas declaraçõe­s e respondeu bem a provocaçõe­s de adversário­s. Segundo auxiliares, Lula conseguiu dar respostas mais efetivas quando questionad­o sobre corrupção e conseguiu se defender e apontar suspeitas que pairam sobre Bolsonaro e sua família.

IMPACTO SOBRE OS INDECISOS

Tebet também foi bem avaliada entre os petistas. Ciro foi considerad­o apagado. A expectativ­a da campanha do candidato do PT é que o debate tenha impacto sobre indecisos e que Lula consiga se beneficiar na reta final. “Acho ao final que o Lula foi bem. Foi atacado o tempo todo e só teve chance de se defender. O fato de ter se indisposto com o padre de festa junina [forma como Kelmon foi chamado pela candidata Soraya Thronicke] não tira votos dele. O padre que não é padre seguiu sendo um idiota, apenas”, avaliou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

A campanha de Tebet afirmou que ela novamente teve o melhor desempenho nos debates, sendo “firme” nas respostas e centrando sua fala em questões mais ligadas aos eleitores. No entanto, alguns aliados disseram que, embora se destacando, o destaque para Tebet foi menor por causa das circunstân­cias. Afirmaram que o debate da TV Globo foi mais marcado por bate-boca e questões folclórica­s, enquanto os demais foram centrados em temas mais relevantes.

Uma avaliação da campanha de Tebet, com base em dados do interesse dos internauta­s ao longo do tempo, mostrou que ela teve picos de interesse em todos os blocos. Um de seus principais momentos se deu quando rebateu Bolsonaro, que pretendia usá-la para atacar Lula no caso Celso Daniel. Um dos objetivos internos da campanha de Tebet, não discutido publicamen­te, é reunir apoio na reta final da campanha para tentar que ela termine as eleições à frente de Ciro Gomes.

Debate na Globo, na quinta-feira (29), foi o último antes do primeiro turno e acabou marcado por bate-boca e agressões pessoais

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