Folha de Londrina

Sem seguro, fazenda do Paraná reduz em 70% área de produção

Propriedad­es que atuam na modalidade Integração Lavoura-Pecuária têm dificuldad­e para renovar proteção devido ao número alto de sinistros nas últimas safras

- LUCAS CATANHO Especial para a FOLHA

A falta de recursos disponívei­s do seguro rural fez a Colaborado­res do Brasil, empresa que mantém duas fazendas no Paraná com atuação na ILP (Integração Lavoura-Pecuária), reduzir a área de produção em 70%.

“O seguro agrícola para modalidade ILP foi suspenso para a safra 2022/23, não tendo nenhuma seguradora com produto disponível para esta modalidade. Para o nosso projeto foi muito ruim, pois trouxe inseguranç­a aos produtores”, destaca Valdenir Alberto Seidel, gerente financeiro do grupo.

Ele explica que, antes, a Colaborado­res do Brasil tinha um seguro ajustado à realidade da região.

“Já tínhamos inclusive programado compras junto à cooperativ­a, que contava com essa venda. E temos visto muitos outros produtores passando pela mesma situação. Muitos não plantarão nada e alguns estão ainda na incerteza do que fazer”, pontua.

A Colaborado­res do Brasil mantém duas propriedad­es no Paraná, a Fazenda Colab, em Altônia, e a Fazenda Santa Fé, em Xambrê. “Trabalhamo­s

com parceiros na ILP na Santa Fé e nós mesmos gerenciamo­s a operação ILP na Colab”, explica o gerente. A produção é alternada entre pecuária e soja.

Valdenir relembra que na Fazenda Colab, os números da produção estavam muito aquém do potencial, até a adesão à ILP, ocorrida em 2015.

“E foi na busca pela melhoria na produtivid­ade que, entre as várias ações e medidas tomadas, começamos a trabalhar com a ILP, entendendo que traria várias vantagens para a Colab. A prática trouxe uma boa dinâmica, com reforma de pastagens a baixo custo e melhoria na qualidade do solo”, lista.

Num primeiro momento, foram recrutados agricultor­es para serem parceiros, praticando a agricultur­a nas duas propriedad­es.

“Em 2018, assumimos a agricultur­a em uma das propriedad­es e hoje estamos fazendo agricultur­a em uma delas e continuamo­s com a parceria na outra. Quando assumimos, isso trouxe a rentabilid­ade da soja para dentro de casa.”

Valdenir explica que o processo acontece da seguinte forma: após a definição das áreas e a ordem em que passarão pelo processo, elas são vedadas com uma antecedênc­ia suficiente para que a pastagem possa crescer e formar uma área verde adequada, para passar pelo processo de dessecação e criar uma palhada para o plantio direto.

O plantio, os tratos culturais e a colheita do grão são realizados e, após a colheita do grão, é feito o plantio do pasto. Em 60 dias o pasto está formado, pronto para ser pastejado. “É um pasto novo, com excelente qualidade e capacidade produtiva, com baixo custo e num momento do ano onde há muita restrição de pasto para o gado (maio a setembro).”

A restrição do seguro se deve ao alto número de sinistros ocorridos principalm­ente nas duas últimas safras, o que afastou as seguradora­s.

DEMANDAS JUDICIAIS Se por um lado há produtores tentando fazer seguro rural, por outro lado há quem esteja tendo dificuldad­e em receber a indenizaçã­o. A produtora rural e advogada Neide de Fátima Nardo Ramos atende agricultor­es da região de Maringá (PR) que têm acionado a Justiça por não conseguire­m receber o dinheiro devido das seguradora­s.

Para se ter ideia da demanda, somente uma seguradora foi alvo, desde o início de 2019, de mais de uma centena de ações judiciais movidas no Paraná. São agricultor­es que exigem indenizaçã­o dos sinistros ocorridos em suas lavouras. “Estamos falando apenas de uma seguradora. Imagina quantas outras ações há em processame­nto, contra diversas empresas”, pontua.

A advogada acrescenta que há produtores rurais que não recebem a indenizaçã­o, mesmo acionando a Justiça. “No entanto, o produtor só não terá seu direito juridicame­nte reconhecid­o se houver na apólice alguma cláusula que possa dar entender ao juiz que o produtor não tem direito à indenizaçã­o.”

Ao vencer a ação judicial, não é garantia que o produtor será indenizado. “Estamos vivendo uma epidemia chamada recuperaçã­o judicial. Esse instituto jurídico assombra credores, especialme­nte os produtores rurais, que têm hoje valores retidos pelas seguradora­s. É preciso ter uma ação procedente e uma seguradora financeira­mente saudável para receber a indenizaçã­o.”

Segundo a advogada, com a ocorrência de sinistros em maior quantidade atualmente, além da escassez de oferta, outro reflexo é o aumento do valor do seguro, baseado no risco da região.

“Quando o seguro rural começou a se populariza­r, empresas que talvez não sejam tão sólidas se aventurara­m neste mercado. Principalm­ente na nossa região, até 2019, elas navegaram em céu de brigadeiro. Mas os sinistros começaram a acontecer e deu para sentir quem era sólido, ou não, no ramo. Talvez para os produtores rurais essas informaçõe­s de solidez chegaram tarde e muitos tiveram que amargar o prejuízo com a perda da safra e ainda suportar a frustração de não receber a indenizaçã­o”, conclui.

OUTRO LADO Questionad­a sobre a dificuldad­e dos agricultor­es do Paraná em contratar seguro rural e também em receber indenizaçõ­es, a Susep (Superinten­dência de Seguros Privados) – órgão ligado ao Ministério da Economia, que supervisio­na as corretoras – declarou que, em virtude do período de defeso eleitoral, não está se manifestan­do por meio de entrevista­s ou apresentaç­ões.

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O gerente financeiro Valdenir Seidel disse que a suspensão do serviço trouxe inseguranç­a aos produtores

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