Folha de Londrina

A maior queda do IDH brasileiro

- Miguel Luzio-dos-Santos, professor de socioecono­mia da UEL e autor do livro: “Ética e Democracia Econômica”.

Vários indicadore­s se propõem a avaliar a qualidade de vida de uma população, o mais consolidad­o é o IDH – Índice de Desenvolvi­mento Humano, utilizado pela ONU – Organizaçã­o das Nações Unidas desde os anos de 1990. Ao longo do tempo, o indicador vem sendo aprimorado e passou a abranger também municípios com o IDH-M (Índice de Desenvolvi­mento Humano Municipal), que serve pra subsidiar políticas públicas locais. Para avaliar o nível de bem-estar da população, o índice considera a expectativ­a de vida ao nascer, escolarida­de e renda per capita. Quanto mais próximo de um, maior o nível de desenvolvi­mento humano do país ou região.

O último Relatório de Desenvolvi­mento Humano, relativo ao ano de 2021 divulgado recentemen­te pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento) aponta uma queda expressiva na posição do Brasil, algo inédito desde a criação do índice. Entre os 191 países avaliados, em 2018 o país ocupava a 79ª colocação e em pouco mais de três anos caiu 8 posições, passando para a 87ª. Só no último ano perdeu três posições, saindo de um índice de 0,758 em 2020 para 0,754 em 2021.

Em caráter de comparação, atualmente o Brasil fica atrás de 15 nações da América Latina e Caribe. Entre elas, Chile, que tem o maior IDH da região – com 0,855, ocupando a 42ª posição no ranking mundial, a Argentina que se encontra em 47º (0,842), o Uruguai que ocupa o 58º lugar (0,809) e o Peru (84º, com 0,762). Percebe-se que os problemas que abalaram o mundo nos últimos anos não impactaram da mesma forma os países vizinhos, o que demonstra o fracasso da gestão brasileira.

Quando se aprofunda a análise do IDH brasileiro percebe-se estagnação nos indicadore­s econômicos e de educação. Contudo, o maior impacto ocorreu na saúde. O Brasil foi o segundo país com maior número de mortes no mundo (próximo a 700 mil), ficando atrás apenas dos EUA. Apesar de possuirmos 2,7% da população mundial concentram­os 11% do número de mortes. A expectativ­a de vida média da população brasileira recuou de 75,3 anos em 2019 para 72,8 em 2021, uma redução de 2,5 anos de vida, enquanto a média global foi de 1,6 anos. O Brasil voltou ao patamar de 2008, o que equivale a um retrocesso de quase 13 anos em esperança de vida.

Quando a questão da desigualda­de é incorporad­a ao IDH brasileiro, o indicador recua 23,6%, saindo de 0,754 para 0,576. A péssima distribuiç­ão de renda nacional é a grande responsáve­l pela corrosão do índice. A parcela dos 10% mais ricos concentra 42,5% da renda total do país e quando se considera o 1% mais rico, a concentraç­ão chega a 28,3% da renda, a maior do mundo juntamente com a do Qatar. Essa distorção faz o Brasil perder 20 posições no ranking mundial de IDH ajustado à distribuiç­ão.

O país é também negativame­nte impactado pelo elevado índice de desigualda­de de gênero ( IDG ), ficando na 95ª posição em termos mundiais. Apesar das mulheres viverem mais e terem mais anos de escolarida­de que os homens, o índice cai em razão da renda das mulheres ser 41,8% inferior à dos homens. Soma-se a isso a baixa representa­tividade no Parlamento, apenas 15% das cadeiras são preenchida­s pelo sexo feminino, embora represente­m 52% da população brasileira.

Comparativ­amente, os países com melhor desempenho no IDH (2021) são: Suíça (0,962), Noruega (0,961) e Islândia (0,959). Nações que repetidame­nte disputam as primeiras colocações na lista de Desenvolvi­mento Humano, resultado que se deve em grande parte às politicas públicas universais e de qualidade num esforço em promover o bem-comum, com fortes ideias de cidadania e de pertencime­nto coletivo. Vale ressaltar que estes países ocupam as primeiras posições entre as nações mais democrátic­as do mundo (Democracy Index, 2021), o mesmo índice que atesta o recuou sistemátic­o do Brasil nos últimos anos.

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