A maior queda do IDH brasileiro
Vários indicadores se propõem a avaliar a qualidade de vida de uma população, o mais consolidado é o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, utilizado pela ONU – Organização das Nações Unidas desde os anos de 1990. Ao longo do tempo, o indicador vem sendo aprimorado e passou a abranger também municípios com o IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), que serve pra subsidiar políticas públicas locais. Para avaliar o nível de bem-estar da população, o índice considera a expectativa de vida ao nascer, escolaridade e renda per capita. Quanto mais próximo de um, maior o nível de desenvolvimento humano do país ou região.
O último Relatório de Desenvolvimento Humano, relativo ao ano de 2021 divulgado recentemente pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) aponta uma queda expressiva na posição do Brasil, algo inédito desde a criação do índice. Entre os 191 países avaliados, em 2018 o país ocupava a 79ª colocação e em pouco mais de três anos caiu 8 posições, passando para a 87ª. Só no último ano perdeu três posições, saindo de um índice de 0,758 em 2020 para 0,754 em 2021.
Em caráter de comparação, atualmente o Brasil fica atrás de 15 nações da América Latina e Caribe. Entre elas, Chile, que tem o maior IDH da região – com 0,855, ocupando a 42ª posição no ranking mundial, a Argentina que se encontra em 47º (0,842), o Uruguai que ocupa o 58º lugar (0,809) e o Peru (84º, com 0,762). Percebe-se que os problemas que abalaram o mundo nos últimos anos não impactaram da mesma forma os países vizinhos, o que demonstra o fracasso da gestão brasileira.
Quando se aprofunda a análise do IDH brasileiro percebe-se estagnação nos indicadores econômicos e de educação. Contudo, o maior impacto ocorreu na saúde. O Brasil foi o segundo país com maior número de mortes no mundo (próximo a 700 mil), ficando atrás apenas dos EUA. Apesar de possuirmos 2,7% da população mundial concentramos 11% do número de mortes. A expectativa de vida média da população brasileira recuou de 75,3 anos em 2019 para 72,8 em 2021, uma redução de 2,5 anos de vida, enquanto a média global foi de 1,6 anos. O Brasil voltou ao patamar de 2008, o que equivale a um retrocesso de quase 13 anos em esperança de vida.
Quando a questão da desigualdade é incorporada ao IDH brasileiro, o indicador recua 23,6%, saindo de 0,754 para 0,576. A péssima distribuição de renda nacional é a grande responsável pela corrosão do índice. A parcela dos 10% mais ricos concentra 42,5% da renda total do país e quando se considera o 1% mais rico, a concentração chega a 28,3% da renda, a maior do mundo juntamente com a do Qatar. Essa distorção faz o Brasil perder 20 posições no ranking mundial de IDH ajustado à distribuição.
O país é também negativamente impactado pelo elevado índice de desigualdade de gênero ( IDG ), ficando na 95ª posição em termos mundiais. Apesar das mulheres viverem mais e terem mais anos de escolaridade que os homens, o índice cai em razão da renda das mulheres ser 41,8% inferior à dos homens. Soma-se a isso a baixa representatividade no Parlamento, apenas 15% das cadeiras são preenchidas pelo sexo feminino, embora representem 52% da população brasileira.
Comparativamente, os países com melhor desempenho no IDH (2021) são: Suíça (0,962), Noruega (0,961) e Islândia (0,959). Nações que repetidamente disputam as primeiras colocações na lista de Desenvolvimento Humano, resultado que se deve em grande parte às politicas públicas universais e de qualidade num esforço em promover o bem-comum, com fortes ideias de cidadania e de pertencimento coletivo. Vale ressaltar que estes países ocupam as primeiras posições entre as nações mais democráticas do mundo (Democracy Index, 2021), o mesmo índice que atesta o recuou sistemático do Brasil nos últimos anos.