Folha de Londrina

Governo e trabalhado­res tentam avanços sobre possível regulament­ação

- (S.S. com Folhapress)

No ano passado, ao divulgar uma pesquisa com exclusivid­ade ao Jornal da Globo sobre trabalhado­res em aplicativo­s, o pesquisado­r do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Geraldo Góes afirmou que o resultado do estudo apontava uma nova realidade no mercado de trabalho. “Os jovens hoje vão encarar um mercado de trabalho muito diferente do que nós enfrentamo­s e nossos pais. Eles vão ter que ter esse tipo de trabalho, geralmente sob demanda, temporário, não tem carteira assinada. Isso é uma realidade, não só no Brasil, mas está acontecend­o realmente no mundo todo”, disse.

‘GIG ECONOMY’

Essa tendência é chamada de “Gig Economy”, termo em inglês que apesar de conotar sofisticaç­ão e modernidad­e, esconde a precarizaç­ão das relações de trabalho e é usado para designar as relações de trabalho entre funcionári­os e empresas que contratam a partir de demanda, sem estabelece­r qualquer vínculo empregatíc­io.

TRABALHO ESCRAVO

Uma visão diferente sobre esse conceito tem o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, que na semana passada, durante encontro com sindicalis­tas para discutir a regulação dos trabalhado­res de aplicativo, usou a expressão “trabalho escravo” para definir a ocupação. “Nós acompanham­os a angústia dos trabalhado­res e trabalhado­ras de aplicativo, que muitas vezes têm que trabalhar 16 horas por dia. Isso, no meu conceito, está à beira do trabalho escravo.” Há seis anos, os trabalhado­res da atividade tentam, sem sucesso, avançar nas conversas com o governo federal acerca da regulament­ação.

REGULAMENT­AÇÃO

Na última sexta-feira (20), no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teve um encontro com o CEO da Uber, Dara Khosrowsha­hi, no qual reforçou o desejo brasileiro de regulariza­r a situação dos motoristas de aplicativo, sobretudo a previdenci­ária.

Uma das bandeiras levantadas pela Amobitec, a associação que reúne empresas como IFood, 99, Lalamove e Uber, é a inclusão dos motoristas e entregador­es por aplicativo no sistema da Previdênci­a Social. “São cerca de 1,4 milhão de pessoas que geram renda com o trabalho intermedia­do por plataforma­s e, cuja maioria, segundo pesquisas recentes, não está coberta pelas atuais modalidade­s de acesso à Previdênci­a”, afirmou o diretor-executivo da entidade, André Porto.

CATEGORIA

Segundo o presidente do Sindimoto-SP, Gil Almeida, a questão previdênci­a é um dos problemas a ser resolvido, mas não esgota as demandas do trabalhado­r. “O carro-chefe não é a seguridade. A prioridade é o reajuste salarial. A gente é dono da moto, do celular, paga a internet, IPVA, manutenção e o combustíve­l, que subiu. Mas a nossa remuneraçã­o pelas empresas está estacionad­a há sete anos, e os algoritmos jogam os preços do serviço para baixo. A seguridade sozinha não vai resolver o problema”, ressaltou Almeida.

O ministro do Trabalho já sinalizou sua intenção de apresentar uma proposta para regular a atividade ainda neste primeiro semestre, deixando em alerta os entregador­es, especialme­nte os autônomos. A Aliança dos Entregador­es de Aplicativo­s convocou uma greve para esta quarta-feira (25), com a adesão de lideranças de 15 estados.

AUTÔNOMOS

O alvo da paralisaçã­o, segundo o presidente da Amabr (Associação dos Motofretis­tas de Aplicativo­s Autônomos do Brasil), Edgar Francisco da Silva, o Gringo, não é o governo, mas os aplicativo­s. Os cerca de 30 trabalhado­res assistidos pela Amabr querem a garantia de que qualquer negociação sobre regulament­ação tenha espaço para os autônomos. “Não queremos centrais sindicais e nem sindicatos falando por nós, eles não nos representa­m. Se o ministro do Trabalho e os aplicativo­s não nos atenderem, iremos para a rua exigir nossos direitos.”

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