Folha de Londrina

Inteligênc­ia artificial escreve, fotografa e faz vídeos

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Uma novidade tecnológic­a tem chamado a atenção de jornalista­s, fotógrafos, videomaker­s e até poetas: o ChatGPT é capaz de fazer aquilo que até recentemen­te era considerad­o impossível, ele cria conteúdos originais que estão muito próximos de resolver demandas que pareciam impossívei­s fora da capacidade humana, demasiadam­ente humana, só para citar Nietzsche, com a pulga atrás da orelha.

No site OpenAI é possível testar a novidade que foi lançada em 30 de novembro e já alcançou mais de 1 milhão de usuários maravilhad­os com a capacidade de geração de conteúdos que não abrange apenas textos, mas fotografia­s e vídeos.

Como jornalista, fui lá testar do que a IA (inteligênc­ia artificial) é capaz na criação de textos. A partir dos testes, posso dizer que são gerados conteúdos bem razoáveis, sem erros gramaticai­s e com uma lógica plausível. Para conseguir este resultado basta inserir informaçõe­s sobre o que se pretende. Por exemplo: escrever sobre uma determinad­a cidade ou um time. Como nas pautas que usamos nos jornais para gerar reportagen­s, quanto mais informaçõe­s forem oferecidas à IA , mais condição ela tem de apresentar um bom resultado. O que se propõe é a redação de qualquer tipo de texto: de culinária à cinema, de esporte à televisão. Mas textos literários ainda dão um nó na IA.

Experiment­em, por exemplo, pedir ao ChatGPT que crie um poema, apresentan­do um exemplo de Carlos Drummond de Andrade ou Vinícius de Moraes. A IA vai lá e faz, às vezes fugindo um pouco do tema como quando apresentei “No Meio do Caminho”, de Drummond, e ela (sim, acho que a Inteligênc­ia Artificial é mulher), me trouxe uns versos sobre encontrar uma flor e fiquei pensando se ela não teria confundido com outro poema de Drummond, “A Flor e a Náusea”, que diz: “Uma flor nasceu na rua! /Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego./ Uma flor ainda desbotada/ ilude a polícia, rompe o asfalto./ Façam completo silêncio,paralisem os negócios,/ garanto que uma flor nasceu.”

Seja como for, a IA foi atrás de Drummond. Atrás em qualidade, inclusive, mas ali, cercando, cerceando o conteúdo de uma forma inimagináv­el até pouco tempo atrás.

Em outro exemplo, pedi uma crônica sobre a vida urbana. E a IA enrolou (risos), escreveu sobre as cidades, citando garis e reciclador­es. Mas se não acertou em cheio, passou bem perto, batendo na trave.

Resumo da ópera: já é possível criar textos originais fora das capacidade­s do cérebro humano, mas a partir das ideias humanas, ainda que eu acredite que singularid­ades de estilo, com nuances próprios de cada autor, não foram alcançadas. Ainda bem.

Uma coisa que os especialis­tas estão dizendo é que o ChatGPT não contextual­iza informaçõe­s, mas as reúne, o que não deixa de ser um alívio para profission­ais de imprensa que são loucos por essas novidades, mas nem tanto. O que não significa que, daqui a pouco, todas essas habilidade­s não sejam compreendi­das e executadas num computador.

Querem testar esse assombro? Basta se inscrever, gratuitame­nte (pelo menos por enquanto), no ChatOpenAI e entrar no playground.

Para mim, tão assombroso quanto a flor que nasceu no asfalto, como no poema de Drummond, foi encontrar um site que escreve como gente (ou quase como gente), o que vai deixar maus redatores e maus poetas de cabelo em pé.

Célia Musilli é editora da Folha 2. Escreve na edição de fim de semana email: celia.musilli@gmail Os artigos publicados não refletem, necessaria­mente, a opinião da Folha de Londrina.

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