Folha de Londrina

Custo de produção de suínos cresce 15% e bate recorde em 2022

Alta de insumos, materiais de construção e mão de obra impactaram o setor e levaram o preço do quilo do suíno vivo a R$ 8,07

- LUCAS CATANHO Especial para a FOLHA

O custo de produção do quilo de suíno vivo alcançou em 2022 o maior valor já registrado pela Embrapa, atingindo R$ 8,07 em dezembro. Nos últimos 12 meses, a alta registrada foi de 15,33%.

Jacir José Dariva, presidente da Associação Paranaense de Suinoculto­res, aponta diversas altas que impactaram nos custos por parte dos criadores – alimentaçã­o dos suínos, materiais de construção e gastos com mão de obra.

“Insumos para alimentaçã­o, como milho e soja, e produtos para composição da ração continuara­m a subir em 2022. Além disso, todo material de construção e de manutenção das granjas subiu fora do normal, como o ferro, por exemplo. Outro agravante foi o aumento do custo da mão de obra para suinocultu­ra, e isso impactou especialme­nte no ano passado”, lista.

No Paraná, o custo de produção em 2022 também ficou em torno da média apontada pela Embrapa. “Em algumas regiões do Estado ficou em mais de R$ 8, em outras um pouco menos. E acho que dificilmen­te teremos, de agora em diante, um valor mais baixo que esse”, projeta.

Além da alta expressiva dos custos de produção, o presidente da entidade aponta como mais um desafio a questão da sanidade e da biossegura­nça do rebanho suíno. “Esses aspectos também impactam bastante no custo de produção”, completa.

Sobre a falta de mão de obra, Dariva lembra que a suinocultu­ra é uma das atividades agropecuár­ias que não para, rodando 30 dias por mês e 365 dias por ano. “Isso demanda uma dedicação diária, aos sábados, domingos e feriados, e as pessoas estão resistente­s a trabalhar nesses dias”, detalha.

Dariva destaca que, pelos motivos expostos acima, há urgência na viabilizaç­ão da suinocultu­ra.

“Precisaría­mos ter ajuste na questão de preços ao produtor, já que ele está produzindo e se endividand­o. O governo possivelme­nte não vai interferir nessa questão, então uma das alternativ­as seria o aumento de consumo da carne suína no Brasil. As exportaçõe­s vão bem, mas aqui temos uma boa demanda em potencial para conseguir viabilizar o nosso negócio”, conclui.

Relatório da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) mostra que o consumo de carne suína do Brasil foi de 16,7 kg por habitante em 2021. O consumo da carne de frango, por sua vez, ficou em 45,5 kg per capita nesse mesmo ano – quase três vezes maior em comparação à carne de porco.

PATAMAR

O criador de suínos Rainer Mathias Leh atua nos municípios de Guarapuava e Pinhão, no Paraná. Ele reforça que o custo de produção, com a reacomodaç­ão dos preços das commoditie­s agrícolas e industriai­s, mudou de patamar. “Neste sentido, o custo em 2022 foi o mais alto que já registramo­s na atividade.”

A família dele cria suínos desde a década de 1970, mas foi no início dos anos 1990 que a produção foi intensific­ada e atingiu maiores escalas. Por ano, o volume produzido gira em torno de 10 mil toneladas de suínos, entre carne e material genético, provenient­es de um plantel de matrizes composto por cerca de 3 mil cabeças.

A produção é comerciali­zada para diversos frigorífic­os do Sul do Estado, incluindo da região de Londrina.

Rainer reforça que o mercado segue desafiador, visto que o setor vem enfrentand­o mares ruins e acumulando prejuízos desde o final de 2021.

“Apesar de estarmos todos [suinoculto­res] exaustos com o péssimo momento que parece não ter fim, a minha leitura é que o mercado continue indigesto para o produtor até o segundo semestre deste ano. A oferta global de carne ainda está muito elevada e a demanda não reagiu ainda aos níveis pré-pandemia”, pontuou.

O criador acrescenta que os últimos dois anos não têm sido nada lucrativos. “Pelo contrário. Chegamos a suportar margens negativas de 35% nesse período. No momento estamos com uma margem negativa de 5% aproximada­mente. Hoje o grande desafio é comercial e econômico. A propriedad­e está em xeque e como está hoje não faz sentido permanecer.”

TÍMIDO

O criador reforça que, apesar de termos conquistad­o um aumento de consumo de carne suína per capita, esse consumo ainda é muito tímido quando comparado a outros países que são tradiciona­is produtores e consumidor­es.

“Com a constante sobreofert­a interna somos, obviamente, dependente­s do mercado de exportação, que ainda depende muito de políticas de Estado para acelerar as vendas externas. A carne suína brasileira, em dólar, é a mais barata disponível no mundo, mas não consegue ser comprada.”

Segundo a Associação Paranaense de Suinoculto­res, o Paraná conta hoje com cerca de 5.600 produtores que trabalham para a indústria do setor. Há também os produtores de fundo de quintal, sendo que a criação de suínos é só uma das atividades da propriedad­e – não há estatístic­as relativas a esses criadores.

RIQUEZAS Levantamen­to feito pelo Deral (Departamen­to de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual da Agricultur­a e do Abastecime­nto), mostra que a criação de suínos para corte foi a 5ª atividade agropecuár­ia que mais produziu riquezas dentro da porteira no Paraná em 2021.

O estudo aponta que o VBP (Valor Bruto da Produção) da suinocultu­ra atingiu R$ 7,9 bilhões em 2021, representa­ndo 4,39% do VBP total no Estado.

No topo do ranking figuram soja (R$ 50,9 bilhões e 28,2% de participaç­ão); frango de corte (R$ 32,5 bi e 18,03% de participaç­ão); leite (R$ 9 bi e 5,03% de participaç­ão) e milho 2ª safra (R$ 8,7 bi e 4,84% de participaç­ão).

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Especialis­ta diz que há espaço para cresciment­o do consumo da carne de porco no Brasil

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