Folha de Londrina

Flashes da vida de uma professora

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desci para falar na orientação quando dois rapazes me pediram para falar com a diretora. Levei os dois e, na sala, disseram que eram os irmãos do Reinaldo. Moravam no sítio e no feriado, dia 15, o menino foi nadar no rio e morreu afogado. Uma tristeza para todos nós da escola.

Estava dando aula na escola do “João Paz”, no período noturno, quando um aluno entra na sala e fecha a porta com muita violência. Então eu lhe disse que deveria bater na porta, pedir licença, cumpriment­ar e depois poderia entrar. Ele falou gritando:

-Eu pedi. A senhora não escutou? Está surda?

A classe toda ficou em silêncio, esperando a minha reação. Gelei, não abri a boca e saí. Fui para a sala dos professore­s, fiquei andando, sem saber o que fazer, pensei: “Senhor, o que faço ?” Minutos depois, retornei. Ouvi o barulho de conversa na sala e quando entrei, todos se calaram. Decerto achavam que eu traria a orientador­a, a diretora, mas não. Não comentei nada sobre o acontecido e continuei a minha aula. Passados uns dias, fui conversar com o aluno, chamei sua atenção. Pediu desculpas, sabia que tinha agido errado, mas que estava com muitos problemas em casa e no trabalho. Conversamo­s muito, mas ele nem chegou a terminar o ano, desistiu da escola.

A Natacha e eu fizemos o concurso de 1ª à 4ª série e fomos dar aulas no Rotary Clube de Ibiporã. Pegávamos o ônibus ali perto de um posto de gasolina, ao lado da Polícia Rodoviária. Certa vez, parou uma camionete e o homem perguntou se nós queríamos uma carona para Londrina. Agradecemo­s e não aceitamos. E todos os dias insistia, até que pegamos umas duas vezes. Disse que tinha um sítio em Ibiporã e todas as manhãs ia pra lá.

Resolvemos não pegar mais carona, saíamos da escola, ficávamos escondidas no posto; ele passava com a camionete, parava, olhava e nós vendo tudo. Aí quando desistia, a gente corria para não perder o ônibus. E logo o homem não apareceu mais. Em julho, a Natacha e eu resolvemos ir para Curitiba tentar a remoção. Conversamo­s com o Dr. Hosken; ele chamou sua assessora, disse que éramos professora­s de Londrina e pra nos atender no que fosse possível. Consegui uma vaga no “Nilo Peçanha” e a Natacha, no “Barão do Rio Branco”. Ficamos felizes. O Dr. Hosken sempre foi um anjo em minha vida. E a Natacha hoje está com Deus.

Sei que a vida é feita de opções, escolhas. Uns escolhem o caminho do bem, estudam, batalham, vencem; outros... Em 2022 completou 50 anos de quando iniciei minha carreira profission­al. Fiz a escolha por vocação, procurei além de transmitir conhecimen­tos, passar valores, o amor a Deus e ao próximo. Sempre quis ser modelo e exemplo para os meus alunos, espero ter feito a diferença na vida de alguns. Agradeço a Deus por todo esse tempo.

IDIMÉIA DE CASTRO, LEITORA DA FOLHA.

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