Folha de Londrina

Lucro pelo uso racional dos insumos

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O lucro é o objetivo principal de qualquer agricultor e ele não é obtido apenas com as boas produtivid­ades. Também pode ser conseguido com a redução de custos, via uso mais racional dos insumos de produção, como os agrotóxico­s e os fertilizan­tes. A utilização de agrotóxico­s (inseticida­s e fungicidas) nas lavouras não aumenta a produtivid­ade, apenas evita que ocorram perdas. Sendo assim, a utilização desses produtos sem necessidad­e, só traz despesas ao produtor, sem aumentar a produtivid­ade.

A economia nos agrotóxico­s pode ser obtida via manejo integrado de pragas e doenças (MIP e MID), que difere da aplicação calendariz­ada, na qual o agricultor realiza a aplicação dos agrotóxico­s baseado no estádio fenológico ou porte da planta, independen­temente da presença da doença ou da quantidade de insetos-praga. No caso das pragas, o MIP recomenda observar o nível de ação ou de controle. Por exemplo, para o controle das lagartas desfolhado­ras existem recomendaç­ões técnicas (nível de ação) que indicam o número de lagartas por metro linear de lavoura que justifica a de inseticida­s.

A população que justifica o controle das lagartas varia com o tipo (espécie) da lagarta e com o estádio fenológico (vegetativo ou reprodutiv­o). Também, é importante observar o índice de desfolha (30%!) como parâmetro auxiliar para definir o controle das lagartas.

Quanto aos percevejos sugadores, sua presença não causa danos à produtivid­ade da soja nos estádios que antecedem a formação das vagens e dos grãos. Sem a presença destas estruturas não há prejuízo para a produção da soja; portanto, não faz sentido controla-los na fase vegetativa. Só contribui para o desperdíci­o de dinheiro e a poluição ambiental. Seu nível de ação depende da finalidade da produção; se para grãos ou para semente (2 ou 1 percevejos/m linear, respectiva­mente) pulverizaç­ão

Obedecendo a estes critérios pode-se reduzir o número médio de pulverizaç­ões em 50%, economizan­do dinheiro e reduzindo a contaminaç­ão do ambiente. Estudos realizados pela Embrapa, em parceria com o IDRPR, indicaram economia de R$ 125,58/ha, que, extrapolan­do este montante aos 39 Mha de soja cultivados no Brasil em 2020/21, poderia gerar uma economia anual de R$ 4,9 bilhões.

Nos fertilizan­tes, o agricultor pode economizar principalm­ente na adubação nitrogenad­a, substituin­do o fertilizan­te mineral pela inoculação com bactérias fixadoras do nitrogênio atmosféric­o, ao custo de uma pequena fração do que gastaria com o uso de fertilizan­tes minerais. A soja é a cultura que mais se beneficia com a fixação biológica do nitrogênio (FBN). Estudos da Embrapa indicaram que o custo do fertilizan­te nitrogenad­o necessário para repor as quantidade­s exportadas anualmente pela colheita de 3.000 kg/ha, é de R$ 906,00/ha e o do inoculante, de apenas R$ 8,00/ha.

Consideran­do a área atual cultivada com soja no Brasil, o custo da adubação nitrogenad­a seria de R$ 35,33 bilhões, ante apenas R$ 288 milhões com o uso de inoculante­s. Economia de R$ 35,1 bilhões, se toda a área cultivada utilizasse apenas o inoculante. Tamanha economia é fundamenta­l para alavancar a competitiv­idade do Brasil na comerciali­zação do grão no mercado global.

O argumento de que a inoculação não é suficiente para prover o nutriente necessário para obter-se altas produtivid­ades, não procede. Estudos da Embrapa mostraram que, mesmo para altas produtivid­ades (acima de 6.000 kg/ha), a inoculação bem-feita,

e com inoculante funcional, é capaz de garantir o nutriente necessário sem utilização de nitrogênio químico.

Também é possível economizar na adubação com outros nutrientes, evitando aplicar aqueles que estão disponívei­s em níveis adequados no solo. Isto se consegue, principalm­ente, por meio da análise de solo obtida de amostras representa­tivas do talhão avaliado.

Cabe ressaltar que o uso contínuo de fertilizan­tes, como os fosfatados concentrad­os, pode ocasionar deficiênci­a nutriciona­l de outros nutrientes, em especial, o enxofre. Ou seja, a quantidade aplicada deve ser equilibrad­a e em níveis adequados para que a planta expresse todo o seu potencial produtivo.

O desperdíci­o de insumos na produção de uma lavoura encarece a produção. O insumo salvo pela correta utilização pode representa­r o principal ingresso financeiro de uma propriedad­e agrícola, principalm­ente em anos de safras magras ou de mercado desvaloriz­ado.

AMÉLIO DALL’AGNOL E ANDRÉ PRANDO, ENGENHEIRO­S AGRÔNOMOS

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