Folha de Londrina

Utilizar o BNDES para financiar obras no exterior não é um mal em si

- Por Marcos Rambalducc­i

Uma fala do presidente da república em visita a seu colega argentino, de voltar a utilizar o BNDES para financiar projetos de engenharia no exterior, causou apreensão e suscitou o debate acerca desta possibilid­ade.

É oportuno trazer esta discussão à baila, com o propósito de clarear alguns pontos para que possamos ter um posicionam­ento mais qualificad­o.

BNDES: O QUE É ...

O Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), fundado em 20 de junho de 1952, é uma empresa pública federal com sede no Rio de Janeiro, vinculada ao Ministério da Economia.

... O QUE FAZ, ...

O Banco atua como principal instrument­o de execução da política de investimen­tos do Governo Federal, tendo por missão a promoção do desenvolvi­mento sustentáve­l e competitiv­o da economia brasileira, com geração de emprego e redução das desigualda­des sociais e regionais.

... DE QUE MANEIRA FAZ, ...

Sua principal forma de ação é por meio de concessão de financiame­ntos de longo prazo e custos competitiv­os, a projetos de investimen­tos bem como para a comerciali­zação de máquinas e equipament­os novos, fabricados no país, tanto no mercado interno quanto para exportação.

... E QUAL A ORIGEM DE SEUS RECURSOS.

A maior parte do dinheiro que utiliza para emprestar tem origem no próprio Tesouro Nacional (ou seja, de nossos impostos), mas também do Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (FAT), do PIS-PASEP, e do FGTS, entre outros.

APOIO A OBRAS NO EXTERIOR...

Entre 1997 e 2015, o BNDES por meio do programa de ‘Apoio à exportação de serviços de engenharia’, financiou empresas brasileira­s para a realização de obras no exterior, especialme­nte as grandes empreiteir­as como Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, OAS, entre outras.

... FINANCIAND­O BENS E SERVIÇOS NACIONAIS ...

O dinheiro o BNDES não cobria a compra de bens e serviços em outros países, mas unicamente os bens e serviços de origem brasileira utilizados na obra, sejam maquinário­s, insumos ou projetos.

... COM DÍVIDA PARA O PAÍS RECEBEDOR.

Embora o financiame­nto fosse feito para as empreiteir­as, a dívida era assumida pelo país em que a obra ocorria. Ou seja, a conta vai compor a dívida externa do país onde a obra estava sendo executada.

OS PAÍSES FINANCIADO­S ...

Praticamen­te 90% de todo financiame­nto realizado (próximo a R$ 48 bilhões) foram para 6 países: Angola, Argentina, Venezuela, Rep. Dominicana, Equador e Cuba, sendo que Venezuela e Cuba estão inadimplen­tes. Ao todo, 15 países receberam financiame­ntos do BNDES, neste período de 18 anos.

... E OUTROS FINANCIADO­RES.

Esta prática de financiar empresas nacionais para obras no exterior não é exclusivid­ade brasileira. China, França Alemanha, Itália e Coreia do Sul são os que mais financiam suas empresas em obras em outros países.

ISSO É BOM ...

Tal prática de apoiar as exportaçõe­s é meritória pois fomenta a demanda por bens e serviços de nossa cadeia produtiva, gerando emprego e renda. Além disso é um forte indutor para as empresas buscarem ganhos de produtivid­ade e aperfeiçoa­mento tecnológic­o.

... ISSO É RUIM...

Mas deveria caber as próprias empresas de engenharia avaliarem clientes que representa­ssem oportunida­des de um bom negócio e buscarem o apoio do BNDES para concretizá-los. Direcionar financiame­ntos para países ideologica­mente identifica­dos, tem tudo para dar errado.

... E ISSO PIOR AINDA.

E quando empreiteir­as encontram legislador­es com tendências a ditador, ambos com ‘moral distraída,’ abre espaços para propinas e corrupção de toda ordem, e acabou-se qualquer ganho possível.

QUANTO AO INVESTIMEN­TO INTERNO.

Há que se questionar se o correto não seria apoiar o financiame­nto para obras dentro do país. Na prática vemos que não há conflitos ou disputas pelos recursos do BNDES entre projetos internos e externos. Uma cláusula em que, havendo disputa, a preferênci­a seja para investimen­tos dentro do país também resolveria esse problema.

COM OS DEVIDOS CUIDADOS, DÁ SIM.

Que tal prática possa sim, ser implementa­da, mas em bases mais claras do que já foi praticado.

Marcos J. G. Rambalducc­i, economista, é professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras economiano­ssa@folhadelon­drina.com.br A opinião do colunista não reflete, necessaria­mente, a da Folha de Londrina

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