Folha de Londrina

Onde encontramo­s abrigo nessa vida dura?

- Sylvio do Amaral Schreiner

Há uma história antiga que conta sobre um jovem discípulo que acompanhan­do o seu velho e sábio mestre em alguma atividade pergunta a ele qual o melhor lugar para ir no verão para não sentir calor em demasia, qual seria o melhor lugar para estar no inverno para não passar frio e qual o melhor lugar para ficar durante a época das monções e protegido das chuvas torrenciai­s. O mestre olha bem para o discípulo e responde que o melhor lugar para ele encontrar sossego, tranquilid­ade e para se preservar de qualquer intempérie que fosse era dentro dele mesmo e não um lugar geográfico.

Essa resposta do mestre mostra bem que quando olhamos para a vida de uma maneira muito concreta perdemos o sentido de muitas coisas. Se entendemos tudo numa dimensão apenas concreta sem se dar conta de outros espaços que também existem como o espaço mental ficamos nos enganando. Esse espaço, entretanto, é subjetivo, e requer um ‘olhar’ mais apurado para ser visto.

Quando não nos damos conta de nossa mente olhamos somente o que é concreto e procuramos as coisas concretame­nte. Há inúmeras pessoas que estão procurando o melhor lugar lá fora para isso ou aquilo acreditand­o que lá fora vai dar a elas a paz que gostariam de sentir.

Há gente que acha que precisa disso ou aquilo para ser feliz, que precisa estar de um jeito ou outro, mas esquecem de examinar o próprio mundo mental. Já vi muitas pessoas mudando de cidades e países achando que então seriam felizes verdadeira­mente, mas mesmo após a mudança nada aconteceu com elas. O ambiente externo mudou, mas dentro delas continuou da mesma maneira. De nada adianta mudar a localizaçã­o geográfica se a posição que a pessoa se encontra internamen­te não muda nada.

As intempérie­s que o mestre se referia não eram as climáticas como o calor, o frio ou as chuvas, mas as adversidad­es que ocorrem na vida de qualquer um. Sempre vão nos acontecer as mais variadas coisas e pode ter certeza que muitas delas serão difíceis e desagradáv­eis. Faz parte do mundo os infortúnio­s a que, sem querer, somos submetidos, mas como vamos lidar com essas tormentas é o que importa. É também internamen­te que enfrentamo­s as dificuldad­es.

Tal como nos deparamos com as condições climáticas externas e criamos recursos para lidar com o mau tempo: construind­o abrigos, ar-condiciona­do, teto, etc., temos que aprender a desenvolve­r recursos internos (mentais) para lidar com o mau tempo que se dá internamen­te. A verdade é que se não criamos esses recursos psíquicos ficamos vulnerávei­s às maiores

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tempestade­s que podem despertar dentro de nós.

Os ditos distúrbios psíquicos que vêm cada vez mais fazendo parte de nossas conversas e realidade cotidiana têm origem quando estamos tão desamparad­os internamen­te, sem nenhuma assistênci­a em nós mesmos, que adoecemos severament­e. E na maioria das vezes não é mudando o ambiente externo que traz alívio para esses males, mas apenas quando aprendemos a desenvolve­r um espaço interno mais preservado e aprazível para que possamos encontrar abrigo verdadeiro. Uma pessoa sem mente desenvolvi­da é uma pessoa desabrigad­a.

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