Onde encontramos abrigo nessa vida dura?
Há uma história antiga que conta sobre um jovem discípulo que acompanhando o seu velho e sábio mestre em alguma atividade pergunta a ele qual o melhor lugar para ir no verão para não sentir calor em demasia, qual seria o melhor lugar para estar no inverno para não passar frio e qual o melhor lugar para ficar durante a época das monções e protegido das chuvas torrenciais. O mestre olha bem para o discípulo e responde que o melhor lugar para ele encontrar sossego, tranquilidade e para se preservar de qualquer intempérie que fosse era dentro dele mesmo e não um lugar geográfico.
Essa resposta do mestre mostra bem que quando olhamos para a vida de uma maneira muito concreta perdemos o sentido de muitas coisas. Se entendemos tudo numa dimensão apenas concreta sem se dar conta de outros espaços que também existem como o espaço mental ficamos nos enganando. Esse espaço, entretanto, é subjetivo, e requer um ‘olhar’ mais apurado para ser visto.
Quando não nos damos conta de nossa mente olhamos somente o que é concreto e procuramos as coisas concretamente. Há inúmeras pessoas que estão procurando o melhor lugar lá fora para isso ou aquilo acreditando que lá fora vai dar a elas a paz que gostariam de sentir.
Há gente que acha que precisa disso ou aquilo para ser feliz, que precisa estar de um jeito ou outro, mas esquecem de examinar o próprio mundo mental. Já vi muitas pessoas mudando de cidades e países achando que então seriam felizes verdadeiramente, mas mesmo após a mudança nada aconteceu com elas. O ambiente externo mudou, mas dentro delas continuou da mesma maneira. De nada adianta mudar a localização geográfica se a posição que a pessoa se encontra internamente não muda nada.
As intempéries que o mestre se referia não eram as climáticas como o calor, o frio ou as chuvas, mas as adversidades que ocorrem na vida de qualquer um. Sempre vão nos acontecer as mais variadas coisas e pode ter certeza que muitas delas serão difíceis e desagradáveis. Faz parte do mundo os infortúnios a que, sem querer, somos submetidos, mas como vamos lidar com essas tormentas é o que importa. É também internamente que enfrentamos as dificuldades.
Tal como nos deparamos com as condições climáticas externas e criamos recursos para lidar com o mau tempo: construindo abrigos, ar-condicionado, teto, etc., temos que aprender a desenvolver recursos internos (mentais) para lidar com o mau tempo que se dá internamente. A verdade é que se não criamos esses recursos psíquicos ficamos vulneráveis às maiores
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tempestades que podem despertar dentro de nós.
Os ditos distúrbios psíquicos que vêm cada vez mais fazendo parte de nossas conversas e realidade cotidiana têm origem quando estamos tão desamparados internamente, sem nenhuma assistência em nós mesmos, que adoecemos severamente. E na maioria das vezes não é mudando o ambiente externo que traz alívio para esses males, mas apenas quando aprendemos a desenvolver um espaço interno mais preservado e aprazível para que possamos encontrar abrigo verdadeiro. Uma pessoa sem mente desenvolvida é uma pessoa desabrigada.