Folha de Londrina

A maturidade do menino Vinicius

- Por Julio Oliveira

Ontem completou um mês da morte de Pelé. O maior de todos os tempos no futebol era preto. E um questionam­ento que sempre acompanhou o Rei foi o fato de não levantar a bandeira do racismo. Pelé não precisou defender causas, sua presença e aceitação em todos os lugares do planeta já era a imposição de que um negro poderia, sim, frequentar qualquer lugar.

Vivemos novos tempos, em que a tolerância para as diferenças diminui e é mais combatida. Em diversos segmentos busca-se a igualdade para que possa haver uma representa­tividade na sociedade que seja mais próxima da realidade. Não dá mais para ignorar que a discrimina­ção retarda a evolução de uma sociedade, que é nociva às transforma­ções e que carrega, mesmo que subjetivam­ente, rancor e ódio.

O esporte sempre foi expoente forte em manifestaç­ões. E o futebol, principalm­ente. Na Espanha, Vinicius Jr. tem sido alvo constante de atos raciais. Não é só discrimina­ção. É agressão o que parte da população espanhola tem feito contra o jogador brasileiro. Digo população, porque não são apenas torcedores rivais. Têm dirigentes, políticos, entidades e tantos outros que não entendem que são necessária­s ações não só para defender o brasileiro, mas para constituir uma sociedade de verdade e menos protecioni­sta ou permissiva.

Pelé preferiu apenas com sua presença, e sendo majestade no futebol, enfrentar os que não gostavam de sua cor. Foi imponente com a presença física. Foi um preto que não precisava bater em portas, pois elas se abriam. Foi forte, sendo sutil. Foi valente, sem armas. Foi preto, sem lutar contra brancos.

Vinicius Jr. é outra história, que ele mesmo ainda está descobrind­o e formatando. Dentro de campo, encanta; fora dele, está criando personalid­ade para compor um verdadeiro guerreiro inteligent­e em tempos de defesas de causas imprescind­íveis. Foi atacado, foi “enforcado” e respondeu sambando com o dom que Deus lhe deu. E mais: tem usado também das palavras para mostrar que não é só um menino bom de bola. Vinicius Jr. já é homem no entendimen­to que sua missão vai além de ser um craque dentro de campo.

Julio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo

A opinião do colunista não reflete, necessaria­mente, a da Folha de Londrina

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