Folha de Londrina

Prioridade na crise yanomami é levar água e comida, diz governo

Lula e ministros discutiram iniciativa­s prioritári­as para barrar o transporte aéreo e fluvial que abastece as atividades criminosas e o garimpo na região

- Renato Machado e Raquel Lopes

Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu na manhã desta segunda-feira (30) com ministros para tratar da crise humanitári­a envolvendo o povo indígena yanomami. Durante o encontro, foram discutidas e acordadas iniciativa­s prioritári­as para barrar o transporte aéreo e fluvial que abastece as atividades criminosas e o garimpo na região.

“As ações também visam impedir o acesso de pessoas não autorizada­s pelo poder público à região buscando não apenas impedir atividades ilegais, mas também a disseminaç­ão de doenças”, informou o governo, em nota. O documento, porém, não traz detalhes dessas ações.

Na questão sanitária, o governo também afirma que é prioridade dar assistênci­a nutriciona­l ao povo, com alimentos adequados aos seus hábitos alimentare­s. Também vai buscar garantir a segurança dos profission­ais de saúde, para que possam exercer suas atividades nas aldeias.

A nota divulgada pelo governo também aponta como prioridade garantir rapidament­e o acesso a recursos como água potável por meio de poços artesianos ou cisternas. Também haverá uma ação para medir a contaminaç­ão por mercúrio - em virtude do garimpo - dos rios e nas pessoas.

“O presidente determinou que todas essas ações sejam feitas no menor prazo, para estancar a mortandade e auxiliar as famílias Yanomami”, afirma o texto.

Participar­am do encontro com Lula os ministros Rui Costa (Casa Civil), José Múcio (Defesa), Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública), Silvio Almeida (Direitos Humanos), Sônia Guajajara (Povos Indígenas), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Alexandre Padilha (Relações Institucio­nais).

Também participar­am o comandante da Aeronáutic­a, brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Swedenberg­er Barbosa, e a futura presidente da

Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), a deputada Joenia Wapichana.

Na sexta-feira (27), o Ministério dos Direitos Humanos criou um gabinete de crise para enfrentar a crise humanitári­a no território yanomami. A formação do gabinete foi prevista em portaria publicada em edição extra do Diário Oficial da União.

O órgão será responsáve­l por realizar visitas técnicas à região, elaborar um diagnóstic­o das principais violações de direitos humanos, propor medidas emergencia­is e criar um plano de ações.

Uma portaria assinada pelo ministro da Justiça e Segurança

Pública, Flávio Dino, nesta segunda-feira (30), criou um grupo de trabalho com a finalidade de propor medidas contra a atuação de organizaçõ­es criminosas, inclusive com a exploração do garimpo, em terras indígenas. O grupo terá 60 dias para a conclusão dos seus trabalhos.

No sábado (21), antes de sua primeira viagem internacio­nal, acompanhad­o de ministros, Lula visitou unidades de saúde indígena na capital Boa Vista, o que deu visibilida­de à crise de saúde no território, agravada pela presença ilegal de 20 mil garimpeiro­s na reserva.

O Ministério da Saúde decretou na sequência estado de emergência para combater a falta de assistênci­a sanitária que atinge os yanomamis.

Segundo o governo, pelo menos 570 crianças yanomamis morreram por contaminaç­ão por mercúrio, desnutriçã­o e fome, “devido ao impacto das atividades de garimpo ilegal na região”. As imagens de crianças desnutrida­s e esquelétic­as provocou grande impacto, tanto no Brasil como internacio­nalmente. Crianças indígenas estão sendo intubadas com desnutriçã­o grave, longe de seus pais.

A Polícia Federal instaurou inquérito para apurar eventual crime de genocídio contra os yanomamis. A investigaç­ão vai se concentrar na apuração de responsabi­lidades de garimpeiro­s, operadores da logística do garimpo, coordenado­res de saúde indígena e agentes políticos.

Em meio a crise, o governo Lula também exonerou 33 coordenado­res da Funai e dispensou outros quatro servidores que ocupavam cargos de coordenaçã­o.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizou suas redes sociais neste sábado (28) para rebater as críticas contra ele e seu governo por conta da crise envolvendo os yanomamis. Afirmou que “nunca um governo dispensou tanta atenção e meios aos indígenas” quanto o dele. Na publicação, também divulgou relatório da CPI destinada a investigar a morte de crianças indígenas por desnutriçã­o, no período de 2005 a 2007.

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Michael Dantas/AFP O Ministério da Saúde decretou estado de emergência para combater a falta de assistênci­a sanitária que atinge os yanomamis

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