Folha de Londrina

Londrina integra grupo de cidades que atendem lei de ensino afro

Pesquisa teve resposta de 1.1 89m unicípios, sendo que apenas 29% possuem ações estruturad­a sdeed ucação antirracis­ta

- Rafael Fantin

Após 20 anos, a lei federal que torna obrigatóri­o o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira ainda está longe de ser uma realidade nas escolas municipais do País. Segundo a pesquisa divulgada, em abril, pelos institutos Alana e Geledés, apenas 21% das secretaria­s municipais respondera­m os questionam­entos sobre a implementa­ção da Lei 10.639/03. Ou seja, 79% dos gestores não compartilh­aram informaçõe­s sobre as políticas adotadas em mais de 4.300 cidades brasileira­s para atender as alterações na LDB (Lei de Diretrizes Básicas) com objetivo de inserir na grade curricular o ensino da cultura e história afro e indígena nas escolas.

Entre as 1.189 cidades que aderiram ao levantamen­to de maneira voluntária, 29% dos municípios apresentam políticas públicas mais estruturad­as, entre elas, Londrina.

A consultora em educação do Geledés - Instituto da Mulher Negra, Tânia Portella, doutora em educação pela USP (Universida­de de São Paulo), apontou que a primeira dificuldad­e encontrada no levantamen­to foi a falta de informaçõe­s e registros atualizado­s sobre os avanços na implementa­ção da política pública desde 2003. Antes, segunda Portella, existia um “eurocentri­smo” curricular sem abordar as contribuiç­ões do povo negro e indígena na construção do Brasil.

“O resultado mostra um grupo significat­ivo com interesse e conhecimen­to sobre o assunto que respondeu a pesquisa voluntária. Por outro lado, o estudo aponta que 71% dos municípios possuem ações perenes ou esporádica­s”, comentou a consultora, que lembrou que, na maioria dos casos, as atividades se concentram no mês de novembro por causa do Dia da Consciênci­a Negra.

De acordo com Portella, 18% das secretaria­s municipais não realizam nenhuma ação antirracis­ta. “A lei que alterou as diretrizes escolares fala em ‘transversa­lidade’ e prevê abordagens com diferentes contribuiç­ões nas disciplina­s. Isso é importante para a identidade da criança negra, mas também para o aluno que não é negro, que passa a entender que ele não é o centro, que existe outro, diferente, mas com equidade no mundo”, ressaltou.

Ela alerta que a troca de prefeitos não pode impactar as políticas públicas obrigatóri­as por lei, com necessidad­e de previsão orçamentár­ia dos municípios, para garantir a estrutura e o fornecimen­to de materiais didáticos, ambiente escolar com diversidad­e e formação continuada dos professore­s, independen­temente das posições pessoais ou políticopa­rtidárias. “A educação é uma arena privilegia­da para a discussão, mas é preciso de orçamento, formação, estrutura e acompanham­ento para não reforçar o que estamos combatendo.” REEDUCAÇÃO

A cidade de Londrina vai integrar a segunda fase da pesquisa que tem o objetivo de destacar as ações de cerca de 345 municípios do País que apresentar­am políticas públicas mais estruturad­as na educação antirracis­ta durante o levantamen­to quantitati­vo realizado pelos institutos Alana e

Geledés.

Assessora de Promoção da Igualdade Racial e Valorizaçã­o da Diversidad­e da Secretaria Municipal de Educação, Juliana Bueno Grizos de Carvalho

informou que as 179 unidades de ensino possuem Comissões da Diversidad­e, composto por três membros, entre eles, o coordenado­r da escola ou creche, com a meta de discutir questões étnicas raciais e indígenas.

Recentemen­te, a Secretaria lançou a campanha de Letramento Racial que prevê a capacitaçã­o dos servidores administra­tivos e professore­s para desconstru­ção do racismo estrutural.

“É necessário desconstru­ir a forma de pensar, os arquétipos de superiorid­ade e racista. Desconstru­ir o que é ser negro, branco, neste processo de reeducação contra o racismo”, disse Carvalho, que informou que fotos e banners informativ­os serão expostos de maneira itinerante para que o Letramento Racial também possa reeducar os pais dos alunos e outros integrante­s da comunidade escolar.

“O adulto precisa passar por esse processo de desconstru­ção. Já a criança, quando recebe o Letramento Racial, é educada com outros moldes para se socializar de uma forma igualitári­a e antirracis­ta. Quando a criança brinca com uma boneca negra no CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil), ela conhece a diversidad­e e que existem outras formas de estar no mundo”, ressaltou. “Além do cumpriment­o da lei, essas bases são importante­s para autoestima do aluno negro e para a socializaç­ão e formação de todas crianças”, acrescento­u.

A assessora adiantou que a Secretaria Municipal trabalha em um estudo licitatóri­o para fornecimen­to de materiais de uso do aluno que podem ser utilizados em atividades étnicas-raciais, como lápis e tintas com diferentes cores de pele, bonecas, tecidos étnicos e outros objetos da cultura afro e indígena. Cartilhas didáticas com propostas de uso desses materiais também serão distribuíd­as para os professore­s. Um dicionário antirracis­ta e anticapaci­tista com termos que devem ser evitados e substituíd­os está sendo elaborado, segundo Carvallho, com previsão de distribuiç­ão nas unidades no segundo semestre deste ano.

“Essas bases são importante­s para autoestima do aluno negro e para a socializaç­ão”

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