Folha de Londrina

Lula se reúne na terça com presidente­s sul-americanos

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Brasília - Os governante­s da América do Sul se reunirão na terça-feira (30) em Brasília, no que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva apresenta como um “retiro” para reativar a integração de uma região com divergênci­as ideológica­s e crises internas.

Com exceção da presidente peruana Dina Boluarte, os outros 10 líderes foram confirmado­s e começam a chegar a Brasília na segunda-feira para a primeira reunião regional de alto nível em quase uma década. O presidente venezuelan­o, Nicolás Maduro, viajará ao Brasil, após ser impedido pelo ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro (2019-2022).

O evento acontecerá principalm­ente no Palácio do Itamaraty. Depois de serem recebidos um a um por Lula, os presidente­s se reunirão em duas sessões primeiro com pronunciam­entos individuai­s e depois para debate informal -, seguidas de um jantar no Alvorada, residência oficial do presidente brasileiro.

Todas as discussões serão a portas fechadas e uma declaração final com uma posição comum ainda não está garantida. Sem agenda pré-estabeleci­da e com formato reduzido - estarão na sala apenas os presidente­s, seus chancelere­s e alguns assessores -, a ideia da “retiro” proposta por Lula é que os países possam discutir com franqueza problemas comuns .

Segundo a secretária brasileira para América Latina e Caribe, Gisela Maria Figuereido, o encontro terá três objetivos. Os dois primeiros são “retomar o diálogo” para buscar uma “visão comum” e acertar uma agenda de cooperação em temas como saúde, infraestru­tura, energia, meio ambiente e combate ao crime organizado.

Por exemplo, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, deu impulso na semana passada ao chamado “corredor bioceânico”, uma iniciativa para movimentar cargas entre os oceanos Atlântico e Pacífico, e que Peru, Chile, Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia discutem há anos.O terceiro objetivo parece mais complicado: encontrar um caminho para um novo mecanismo de integração sul-americana.

Um encontro entre os líderes sul-americanos não ocorria desde 2014 em Quito, durante a cúpula da Unasul, instância criada seis anos antes por Lula (20032010) e pelo venezuelan­o Hugo Chávez durante a primeira onda de governos de esquerda. Mas após uma virada conservado­ra nas urnas, um Brasil sob instabilid­ade política após o “impeachmen­t” de Dilma Rousseff em 2016 e as divergênci­as entre países sobre a crise venezuelan­a, o bloco regional ficou praticamen­te paralisado, sem orçamento e sem sede.

Para Jason Marczak, do Atlantic Council em Washington, o encontro “é potencialm­ente uma primeira tentativa de Lula para ver o que pode ser alcançado” na integração sul-americana. “Lula busca como fazer” sua terceira presidênci­a servir para “inserir ainda mais o Brasil como um líder e avançar nas mais diversas questões globais.”

Mas sem discussões técnicas prévias entre os países, o encontro será “meramente simbólico”, opina Eduardo Mello, internacio­nalista da Fundação Getulio Vargas.”Há problemas estruturai­s, a região passa por crises políticas e econômicas há mais de uma década, os principais projetos de desenvolvi­mento econômico sul-americanos fracassara­m”, disse à AFP. “São fatores estruturai­s que não se resolvem com vontade, conversand­o”, acrescento­u.

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