Folha de Londrina

Só 20% das mulheres conhecem bem a Lei Maria da Penha

Maior familiarid­ade com a legislação é fundamenta­l para que elas possam reivindica­r seus direitos, além de interrompe­r ciclos de abusos e agressões

- Alana Gandra Rio de Rio de Janeiro Janeiro -

- Apenas duas em cada dez mulheres se sentem bem informadas em relação à Lei Maria da Penha, que criou mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher e foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006.

Os dados fazem parte da 10ª edição da Pesquisa Nacional de Violência Contra a Mulher, realizada pelo Observatór­io da Mulher Contra a Violência (OMV) e o Instituto DataSenado, ambos do Senado. A sondagem é bianual e foi divulgada nesta quartafeir­a (28) em Brasília. Ela envolveu entrevista­s por telefone com 21.787 mulheres de 16 anos ou mais entre os dias 21 de agosto a 25 de setembro do ano passado.

Esta é a primeira edição do levantamen­to que traz dados por Estado. O estudo atualiza, também pela primeira vez, o Mapa Nacional da Violência de Gênero, projeto viabilizad­o pelo OMV, o Instituto Avon e a organizaçã­o Gênero e Número, que cobre questões de gênero e raça no Brasil e na América Latina desde 2016.

Na avaliação de Beatriz Accioly, coordenado­ra de Parcerias do Instituto Avon, o que chama bastante a atenção na pesquisa é que a Lei Maria da Penha é conhecida pela população brasileira de maneira geral, mas quando se pergunta o quanto as pessoas sabem da lei, sobretudo as mulheres, percebe-se que o conhecimen­to ainda é muito

Lançado em novembro de 2023, o Mapa Nacional da Violência de Gênero é uma plataforma interativa que reúne os principais dados nacionais públicos e indicadore­s de violência contra as mulheres, incluindo a Pesquisa Nacional de pequeno.

“É quase de ouvir falar. Não dá segurança de saber exatamente o que a lei garante em termos de direitos e o que ela muda de fato”, disse Accioly.

Ela explicou que a pesquisa alerta para a necessidad­e de entender não só o que as pessoas já ouviram falar sobre a lei, mas o quanto elas conhecem nos detalhes, o quanto esse conhecimen­to tem a ver com os seus próprios direitos.

De acordo com o estudo, mesmo nas localidade­s onde há maior conhecimen­to entre a população feminina sobre a Maria da Penha, o índice é muito baixo, passando pouco de 30%.

É o caso do Distrito Federal (33%), Paraná (29%) e Rio Grande do Sul (29%). “O conhecimen­to está muito longe de ser o ideal”, afirmou. As mulheres das regiões Norte e Nordeste são as que afirmam conhecer menos a Lei Maria da Penha, principalm­ente no Amazonas (74%), Pará (74%), Maranhão (72%), Piauí (72%), Roraima (71%) e Ceará (71%).

“O objetivo é aumentar a parcela da população com conhecimen­to sobre a legislação. Isso pode ser feito a partir da construção de medidas educativas e de conscienti­zação sobre leis, recursos e políticas públicas voltadas para o enfrentame­nto à violência de gênero”, afirmou Daniela Grelin, diretora executiva do Instituto Avon. Para ela, o maior conhecimen­to é fundamenta­l para que as mulheres brasileira­s possam reivindica­r seus direitos, além de interrompe­r ciclos de abusos e agressões.

Violência contra as Mulheres, mais longa série de estudos sobre o tema no país.

A Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006, tornou mais rigorosas as penas contra crimes de violência doméstica.

O nome da lei é uma homenagem

A coordenado­ra do Observatór­io da Mulher contra a Violência, do Senado, Maria Teresa Prado, destacou que a pesquisa constitui ferramenta que pode auxiliar os legislador­es na criação de leis, políticas públicas e programas que funcionem de fato e que sejam mais adequados às especifici­dades de cada Estado.

Segundo Beatriz Accioly, todos os senadores e senadoras vão receber um relatório específico de seu Estado, com diagnóstic­o do território. “É necessário que a gente alerte os parlamenta­res para o fato de que esse problema de violência familiar contra a mulher é um dos mais graves. É a Maria da Penha Maia, farmacêuti­ca e bioquímica cearense que sofreu diversas tentativas de homicídio por parte do marido. Em maio de 1983, ele deu um tiro em Maria da Penha, que ficou paraplégic­a.

Após aguardar a decisão da preciso que eles conheçam a realidade de seus Estados e possam cobrar das autoridade­s locais mudanças de atuação para reverter a situação”.

A presidente e diretora de conteúdo da Gênero e Número, Vitória Régia da Silva, lembrou que a dificuldad­e em reconhecer situações de violência e a falta de conhecimen­to dos próprios direitos podem impedir que as vítimas tenham acesso aos serviços da rede de proteção. Por isso, é preciso mudar esse cenário.

A pesquisa identifico­u também que o índice nacional de mulheres que declaram ter solicitado medidas protetivas para a sua segurança é de

Justiça por 15 anos e sem resultado, ela entrou com uma ação contra o país na Comissão Interameri­cana de Direitos Humanos (CIDH). Esse foi o primeiro relato sobre violência doméstica feito ao órgão na América Latina. Em 2001, o Estado brasileiro foi 27%, à exceção do Rio Grande do Sul, onde 41% das mulheres que sofreram violência com base no gênero solicitara­m medidas protetivas.

Beatriz Accioly avaliou, entretanto, que embora o Rio Grande do Sul, junto com Paraná e o Distrito Federal, sejam os locais onde o grau de conhecimen­to das mulheres sobre a Lei Maria da Penha é “menos pior” no Brasil, ainda há muito a avançar.

“Esses dados mostram que as pessoas sabem que a lei existe. Mas elas precisam conhecer os seus instrument­os, as suas ferramenta­s, como utilizar a lei e transformá-la em direito difuso”, disse Accioly. condenado, pela primeira vez na história, por negligênci­a, omissão e tolerância em relação à violência doméstica. O marido de Maria da Penha foi preso apenas 19 anos depois, em 28 de outubro de 2002, e cumpriu dois anos de prisão.(A.G.)

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