Folha de Londrina

Demissão voluntária aumenta com empregos aquecidos

De 2022 para 2023, o número de demissões a pedido dos trabalhado­res aumentou de 6,8 milhões para 7,3 milhões, segundo pesquisa

- Leonardo Vieceli

RIO DE JANEIRO, RJ - A carioca Mylena Severo, 25, decidiu trocar de emprego e pediu demissão em janeiro. Deixou para trás uma vaga na área de marketing de uma empresa para ocupar um posto de analista de eventos em outra companhia.

Com a sensação de que o mercado está mais aquecido após a pandemia, a jovem avaliou que o momento seria interessan­te para buscar novas experiênci­as.

Ela segue trabalhand­o em sua casa, no Rio de Janeiro, e afirma que não se arrepende da troca de emprego. “Senti a necessidad­e de experiment­ar algo novo. Acho que vai fazer sentido no longo prazo”, diz a jovem, que é formada em jornalismo.

“Bateu um certo desespero [antes da troca], talvez seja coisa da minha geração. Pensei: ‘Caramba, vou ficar acomodada, não vou trabalhar em outras empresas’”, acrescenta.

DESLIGAMEN­TOS VOLUNTÁRIO­S

Decisões como a de Mylena estão em alta no Brasil, indica um levantamen­to da consultori­a LCA. Na passagem de 2022 para 2023, o número de demissões a pedido dos trabalhado­res com carteira assinada aumentou de 6,8 milhões para 7,3 milhões, segundo o relatório.

Com o cresciment­o, a proporção de desligamen­tos voluntário­s em relação ao total de dispensas subiu de 33,6% para 34%. Tanto o número absoluto quanto o percentual são recordes na análise, que investiga dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos) a partir de 2004.

“O indicador mostra um certo aqueciment­o no mercado. É provável que boa parte das pessoas esteja se desligando para ter uma admissão em outro lugar. É um indício de que existe uma oferta maior de vagas”, avalia Bruno Imaizumi, economista da LCA responsáve­l pelo levantamen­to.

Ele lembra que, em 2020, a série histórica do Caged passou por mudança de metodologi­a. A atualizaçã­o, segundo Imaizumi, deixou a captação dos dados “mais abrangente”.

Em virtude dessa adaptação, em vez de focar o número absoluto de demissões a pedido, é recomendáv­el olhar mais para a participaç­ão ante o total de registros na série, aponta o economista.

Conforme Imaizumi, outra possível explicação para o aumento das demissões a pedido está associada a mudanças de pensamento aceleradas pela pandemia.

“A crise da Covid mudou a forma como os trabalhado­res pensam a questão profission­al. Começam a colocar na conta outros aspectos, não só os salários”, afirma.

“Os trabalhado­res prezam mais pela qualidade de vida, olham para o tempo gasto no trânsito, tentam ficar mais em casa. São mudanças geracionai­s mesmo”, acrescenta.

ESCOLARIDA­DE INFLUENCIA

No recorte por grau de instrução, os maiores percentuai­s de demissões voluntária­s estão nos grupos com mais escolarida­de, conforme a LCA. A proporção mais elevada foi registrada entre os trabalhado­res com pós-graduação completa (46,9%).

“A pessoa com maior instrução tem maior poder de barganha na hora de se inserir no mercado. Isso, de alguma forma, acaba ajudando”, diz Imaizumi.

Na análise por faixa etária, os maiores percentuai­s de demissões voluntária­s estão entre os mais jovens, de acordo com a LCA.

A proporção de desligamen­tos a pedido dos trabalhado­res supera 30% nos grupos até 17 anos (36,5%), de 18 a 24 anos (39,5%), de 25 a 29 anos (36,5%) e de 30 a 39 anos (33,1%).

A mexicana Brenda Flores Cano, 30, vive no Rio de Janeiro e diz que já trocou três vezes de emprego por decisão própria após a pandemia.

A designer industrial afirma que, ao fazer as trocas, passou a buscar vagas que garantiam a oportunida­de de trabalhar de maneira remota.

Assim, ela consegue visitar sua família no México sem a necessidad­e de pedir férias. “Existia uma mentalidad­e de o trabalho ser em um lugar fixo. Com a pandemia, veio a ideia de que não é preciso ter um escritório para trabalhar”, diz.

Ela também vê uma “diferença de geração”. Enquanto a dos seus pais almejava fazer carreira em uma única empresa, a sua não pensa dessa forma, aponta a jovem.

SANTA CATARINALI­DERA

O levantamen­to da LCA ainda traz um recorte estadual. Em 2023, o maior percentual de demissões voluntária­s foi registrado em Santa Catarina (45,2%). Mato Grosso do Sul (43,8%) e Mato Grosso (41,7%) aparecem em seguida.

Os três estados estão entre aqueles com as menores taxas de desemprego no Brasil. Mato Grosso do Sul e Mato Grosso também se destacam no agronegóci­o, que teve desempenho aquecido em 2023.

Bahia (20,7%) e Pernambuco (20,7%), por outro lado, tiveram os menores percentuai­s de demissões voluntária­s no ano passado, segundo a LCA. “São estados com menor disponibil­idade de vagas de trabalho com carteira assinada”, afirma Imaizumi.

Um novo estudo da rede social LinkedIn aponta que 75% dos profission­ais brasileiro­s pesquisado­s consideram mudar de emprego em 2024. Isso representa um aumento de 15 pontos percentuai­s na comparação com 2023 (60%).

Segundo a pesquisa, a necessidad­e de salários mais altos (44%), o desejo de equilíbrio entre vida profission­al e pessoal (29%) e a confiança em suas habilidade­s (21%) são os principais motivos para os planos de mudança de emprego.

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IStock Mais confiantes, funcionári­os pedem demissão voluntária dos empregos com carteira assinada em busca de novas experiênci­as profission­ais

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