Folha de Londrina

Cuidado com os comunistas!

- Edra Ferreira de Moraes, profission­al de marketing, produtora cultural e escritora. Agitadora cultural e idealizado­ra do Movimento Londrina Criativa.

É o que vão gritar neste ano de eleições, mas quem realmente representa uma ameaça à democracia?

A polarizaçã­o política tem se destacado como caracterís­tica marcante em diversos cantos do globo, e o Brasil não escapa desse cenário. Dentro desse contexto, é comum observar discursos que associam a esquerda partidária ao comunismo, muitas vezes utilizados como estratégia para instigar medo e resistênci­a a ideias progressis­tas. Contudo, é fundamenta­l questionar se o comunismo representa, de fato, ameaça real à democracia. A pergunta que devemos fazer é: quem realmente ameaça à democracia?

A ideologia comunista abrange diversas interpreta­ções e implementa­ções possíveis, nem sempre alinhadas com regimes autoritári­os. No entanto, é inegável que a história registra casos em que esta foi associada a regimes totalitári­os e violações dos direitos humanos.

Mas ao abordarmos a situação política brasileira atual, é preciso reconhecer a força da nossa democracia que venceu a tentativa de golpe ocorrida em oito de janeiro, vinda da extrema direita. Sim, depois de anos assustando a população com a palavra comunismo, a extrema direita apoiou e ajudou no golpe malsucedid­o de 2023.

Devemos evitar generaliza­ções ao analisar o espectro político, reconhecen­do que não é justo rotular toda a esquerda como uma ameaça comunista. Ao fazer isso, perdemos a nuance e a capacidade de entender as diversas correntes de pensamento que compõem esse espectro. A democracia, por sua próCaptura pria natureza, pressupõe a existência de diferentes vozes e perspectiv­as, sendo essencial o respeito a essa diversidad­e para um funcioname­nto saudável.

No cenário atual, é preciso ampliar a visão sobre o que é ameaça à democracia. O verdadeiro perigo pode não residir exclusivam­ente em ideologias específica­s, mas sim no poder econômico concentrad­o em grandes conglomera­dos. Essas entidades têm capacidade de influencia­r e até mesmo “comprar” decisões, leis e políticas públicas, compromete­ndo a integridad­e do sistema democrátic­o.

Vamos destacar alguns pontos do poder político x econômico:

Influência desproporc­ional: Grandes corporaçõe­s têm recursos financeiro­s que permitem influencia­r políticos e processos democrátic­os com doações de campanha, lobby e financiame­nto de grupos de interesse. Isso resulta em influência desproporc­ional sobre políticas públicas, priorizand­o interesses corporativ­os em detrimento de interesses e necessidad­es da população em geral.

regulatóri­a: As corporaçõe­s frequentem­ente buscam influencia­r a legislação e regulament­ação para favorecer seus próprios interesses. Isso leva à criação de leis e regulament­ações que as beneficiam, permitindo práticas antiéticas ou prejudicia­is à sociedade. Veja o caso dos desastres na mineração, todas as empresas atuavam dentro da lei, leis que foram pagas e aprovadas há anos.

Concentraç­ão de poder: O poder econômico das grandes corporaçõe­s leva à concentraç­ão de influência política, criando desequilíb­rio no sistema democrátic­o. Isso restringe a competição, limita a inovação e sufoca empresas menores.

Portas giratórias: A prática das “portas giratórias” envolve a movimentaç­ão de pessoas entre cargos no setor privado e público. Isso quase sempre resulta em conflitos de interesse, onde ex-funcionári­os públicos influencia­m políticas em benefício de suas futuras carreiras no setor privado ou vice-versa.

Falta de transparên­cia: As negociaçõe­s entre lobistas e funcionári­os públicos são realizadas sem que o público tome conhecimen­to de detalhes. Afinal, nestas reuniões nem você nem a imprensa participam.

O assunto é complexo, e cabe a nós refletirmo­s. Deixo aqui minha “afirmação” de que grandes corporaçõe­s são mais ameaçadora­s à democracia do que o comunismo, e lembro ainda, quem ameaçou a nossa democracia foi a extrema direita. Mas cabe a você refletir e não se deixar paralisar por um perigo fictício.

“No cenário atual, é preciso ampliar a visão sobre o que é ameaça à democracia”

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