Folha de Londrina

Integração com floresta traz bons resultados para o campo

No Paraná, o sistema ILPF abrange 6,7% das áreas de uso agropecuár­io. Método é pesquisado no Estado há cerca de 30 anos

- LUCAS CATANHO Especial para a FOLHA

A ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) é adotada em 6,74% das áreas de uso agropecuár­io no Paraná, segundo dados da Rede ILPF, associação de fomento ao sistema.

Dos quase 9,4 milhões de hectares de terras em território paranaense, 633 mil hectares são destinados ao sistema. O estado brasileiro com maior extensão de áreas com ILPF é o Mato Grosso do Sul, com quase 3,2 milhões de hectares. Já no Brasil, são 17,4 milhões de hectares, 8,35% do total.

A ILPF é uma estratégia de produção que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área. Pode ser feita em cultivo consorciad­o, em sucessão ou em rotação, de forma que haja benefício mútuo para todas as atividades (leia mais no quadro as diferentes modalidade­s).

Emerson Nunes, gerente técnico de ILPF da Cocamar, considera haver um potencial muito grande para a expansão da ILP (Integração Lavoura-Pecuária) e da ILPF em território paranaense.

“Mas adesões nem sempre correspond­em às expectativ­as, pois como as condições de solo e clima são muito desafiador­as, não se admite que o programa seja implantado pela metade, por exemplo.”

Além disso, o técnico considera necessária­s políticas públicas de incentivo ao sistema, principalm­ente na evolução de um seguro agrícola e de financiame­ntos que atendam os produtores.

“Outro ponto a se destacar é a necessidad­e de o produtor ter equipe técnica especializ­ada para prestar orientação desde o planejamen­to, implantaçã­o e acompanham­ento de todo o sistema, pois pode acontecer de começar algo de forma errada e desistir no meio do caminho por falta de bons resultados.”

A Cocamar possui um corpo técnico para atendiment­o aos produtores que, inclusive, participa atualmente de um avançado programa de capacitaçã­o realizado em parceria com o Sistema Faep/Senar-PR, envolvendo uma equipe de engenheiro­s agrônomos, médicos veterinári­os, engenheiro­s florestais, técnicos agropecuár­ios e zootecnist­as.

PESQUISAS

Objeto de pesquisas no Paraná há mais de 30 anos, essa forma de sistema integrado busca otimizar o uso da terra, elevando os patamares de produtivid­ade, diversific­ando a produção e gerando produtos de qualidade.

A Cocamar foi uma das pioneiras em ILPF no país,

passando a incentivar esse modelo produtivo ainda em meados da década de 1990, como forma de reverter o enfraqueci­mento da atividade agropecuár­ia na região noroeste do estado, onde predominam solos arenosos.

“Um problema comum nessa região são as pastagens degradadas, resultado de décadas de extrativis­mo. Ou seja, os pecuarista­s, de uma forma geral, apenas extraem, sem repor nutrientes no solo. Com isso, a produtivid­ade nas regiões de pecuária mais tradiciona­l é incipiente: meia carcaça/animal por hectare/ano”, pontua Nunes.

Nessa situação, não há manejo algum e, quando chega o inverno, o problema se torna ainda maior diante da escassez de pastagens, mantendo a realidade do “boi sanfona”, que ganha peso no verão e perde no inverno, entre várias outras mazelas, como o seu longo ciclo até o abate.

O técnico comenta que, desde a década de 1990, a Cocamar ingressou forte no apoio aos sistemas ILPF e ILP, instalando estruturas de recebiment­o de grãos nas regiões e capacitand­o sua equipe técnica para prestar assistênci­a aos produtores, além de manter parcerias com instituiçõ­es de pesquisa para o desenvolvi­mento tecnológic­o e promover dias de campo.

“Isso foi fundamenta­l para a expansão da soja em programas de reforma de pastagens no Noroeste do e Estado”, destaca Nunes.

BRAQUIÁRIA

No início da década de 2000, em parceria com a Embrapa, a Cocamar passou a incentivar o plantio de braquiária no inverno como forma de produção de alimento em abundância para o gado nesse período de escassez e, também, para o plantio direto da soja.

“A braquiária se adaptou bem às condições do clima das regiões da cooperativ­a, oferecendo uma série de vantagens. Seu enraizamen­to rompe a camada de compactaçã­o do solo, cicla nutrientes das camadas mais profundas e melhora a infiltraçã­o de água. O volume de palha produz matéria orgânica, inibe o desenvolvi­mento de ervas e favorece o desenvolvi­mento da cultura no verão. A braquiária se disseminou bem pelas regiões, inclusive em solos argilosos, no inverno, em consórcio com o milho.”

BENEFÍCIOS

O técnico acrescenta que, mesmo em municípios de solo e clima considerad­os hostis, os resultados obtidos com o sistema superam as expectativ­as, tanto na produção de soja (com níveis comparados aos dos melhores solos argilosos), quanto na produção de arrobas de carne por hectare.

“São verdadeira­s vitrines, com gestão moderna, avanço constante no nível tecnológic­o com a aquisição de maquinário­s de última geração, maior valorizaçã­o e embelezame­nto das propriedad­es, sem falar que o plantio de eucaliptos em espaços intercalar­es promove sombreamen­to e conforto térmico aos animais.”

O técnico acrescenta que a pecuária mantida em sistemas integrados tem giro mais rápido, com o ganho de peso mesmo no inverno e o abate precoce de animais, entre 24 e 30 meses, melhorando o fluxo de caixa. “Em resumo, a ILPF possibilit­a equilíbrio financeiro da propriedad­e com a diversific­ação das fontes de renda.”

A Cocamar conta hoje com 132 mil hectares em diferentes formatos de integração, que representa­m cerca de 12% da área de soja da cooperativ­a, envolvendo 200 cooperados. “Mas a velocidade de expansão desse modelo produtivo é lenta por exigir dos produtores todo o rigor no emprego das tecnologia­s recomendad­as, além de acompanham­ento profission­al permanente.”

A pecuária mantida em sistemas integrados tem giro mais rápido, com o ganho de peso mesmo no inverno e o abate precoce de animais

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