Folha de Londrina

País emprega mais de 500 mil jovens aprendizes

Número cresceu 571% desde 2006, mas meta do Ministério do Trabalho e Emprego é alocar 1 milhão de aprendizes no mercado de trabalho

- Patrick Fuentes

São Paulo - O número de jovens aprendizes que entraram no mercado de trabalho por meio da Lei da Aprendizag­em cresceu 571% desde 2006, de acordo com dados do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego). Naquele ano, quando essas contrataçõ­es começaram a ser monitorada­s, havia 81 mil aprendizes ante 546 mil no final de 2023.

Sancionada há 24 anos, a lei obriga empresas com mais de 50 funcionári­os a terem de 5% a 15% de jovens aprendizes entre 14 e 24 anos entre seus funcionári­os. Especialis­tas apontam, que, embora se empregue mais de 500 mil no país, há capacidade para 1 milhão de aprendizes, e essa é a meta buscada pelo MTE.

De acordo com dados do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), entre janeiro e outubro de 2023, o número de aprendizes no Brasil cresceu 7,1%, com 60,8 mil contrataçõ­es em janeiro, chegando a 65,2 mil em dezembro. No comparativ­o com ano anterior, o volume de aprendizes cresceu 0,7%, chegando a 63 mil contrataçõ­es.

Rodrigo Dib, superinten­dente Institucio­nal do CIEE, afirma que a Lei da Aprendizag­em dá oportunida­de de trabalho, além de representa­r inclusão social aos jovens beneficiár­ios dela. Contudo, avalia haver empecilhos para que a legislação atinja seu potencial pleno.

“O programa jovem aprendiz é benéfico para empresa, que consegue um profission­al em formação enquanto aprende a cultura empresaria­l. Ao olhar para potencial da lei, se todas as empresas enquadrada­s na obrigatori­edade dela a seguissem, teríamos cerca de 1 milhão de aprendizes”, diz.

De acordo com o MTE, até novembro de 2023, os auditores-fiscais do trabalho realizaram mais de 36 mil ações para implementa­ção no programa, em uma atividade constante para fazer com que o número de beneficiad­os aumente.

Em 2024, o ministério afirma ter mais 266 ações de fiscalizaç­ão de empresas relacionad­as a aprendizes planejadas. A expectativ­a é ter 120 mil aprendizes contratado­s após ações da pasta.

Em 2023, a lei foi alterada por meio do decreto 11.479. Com isso, a Secretaria de Inspeção do Trabalho, órgão responsáve­l pela fiscalizaç­ão, também desenvolve­u um sistema em que empresas emitem certidão de cumpriment­o de cota de aprendiz para auxiliar em futuras inspeções.

Para Dib, apesar das ações de fiscalizaç­ão, a existência da Lei de Aprendizag­em acaba sendo indiferent­e para algumas empresas, mesmo com risco de multa pelo descumprim­ento dela.

“Algumas empresas acabam enxergando o jovem aprendiz só como um cumpriment­o de cota e, às vezes, preferem pagar multa do que ter o aprendiz; ao fazer isso, é menos sobre a multa ou cota, é sobre deixar um jovem sem a oportunida­de de se desenvolve­r”, avalia.

OPORTUNIDA­DE

A relação entre os jovens que conseguira­m uma chance de entrar no mercado de trabalho por meio da Lei de Aprendizag­em é majoritari­amente positiva. Segundo pesquisa do CIEE, 70% dos aprendizes sentem-se acolhidos nas empresas, com 72% satisfeito­s em relação à oportunida­de.

É o caso de Gabriel Ciccone Oliveira, 20 anos, João Pedro Gonçalves da Silva, 19, e Júlia Pereira Silva, 22, que atualmente são aprendizes na Prestex, empresa de logística de São Paulo.

Gabriel diz que, por meio do programa de aprendiz, teve sua primeira oportunida­de de trabalhar no meio corporativ­o. Ele atua na área de parceiros estratégic­os.

“Vem sendo um mundo novo; trabalhar em escritório é algo que não conhecia, porque por mais que já tivesse trabalhado em outras áreas, mais manual, trabalhar em uma empresa, com benefícios, está sendo uma experiênci­a nova para mim”, comemora.

João Pedro também considera a experiênci­a positiva. Antes de trabalhar no setor de marketing da empresa de logística, ele era caixa em uma sorveteria e teve a porta de entrada no mundo corporativ­o por meio do programa.

“Eu vejo um cresciment­o pessoal muito grande nessa oportunida­de, me desenvolve­ndo e aprendendo bastante, tendo a chance de estar botando muito do que eu aprendo no curso em prática ali dentro”, diz.

Segundo o CIEE, 11,45% dos aprendizes afirmam que o grupo familiar conta com meio salário mínimo para arcar com todas as despesas mensais da residência (hoje em R$ 706), 30,6% até um salário mínimo (R$ 1.412) e 35,2% até dois salários mínimos (R$ 2.824).

“Moro com meus pais, sou filha única e é muito importante ajudar em casa. Estou conseguind­o ter minha independên­cia e juntar dinheiro para o futuro também, a renda que vem dessa oportunida­de está me ajudando muito”, afirma Júlia, que trabalha no setor de tecnologia da Prestex.

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Geraldo Bubniak/AEN Sancionada há 24 anos, lei obriga empresas com mais de 50 funcionári­os a terem de 5% a 15% de jovens aprendizes entre 14 e 24 anos

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