Folha de S.Paulo

A delação e a eleição

-

BRASÍLIA - O mundinho da política ferve com a possibilid­ade de se tornar conhecido o conteúdo dos depoimento­s do ex- diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Preso há meses, ele fez um acordo de delação premiada. Conta o que sabe em troca de uma pena reduzida.

Ontem ( 5), soube- se que Costa já teria relacionad­o os nomes de 12 senadores, 49 deputados federais e de um governador. Esse grupo estaria envolvido em traficânci­as com a estatal. Pelo menos três partidos políticos também ficam encrencado­s nesse escândalo — PT, PMDB e PP.

Em algum momento, o ex- diretor da Petrobras declarou que não haveria eleição neste ano se ele revelasse tudo o que sabe. Um exagero. Eleição, haverá. Mas de outra natureza.

Arevelação de corrupção a granel noplano federal terá impacto nas urnas. Quando políticos tradiciona­is aparecem relacionad­os ao jeito antigo de tratar o Estado, crescem as chances de novatos terem sucesso nas urnas. No mínimo, fica mais di- fícil para os agentes, vamos dizer, ortodoxos se manterem no poder.

A democracia brasileira tem um exemplo assim na eleição de governador­es de 1994. No ano anterior, o Congresso havia assistido ao escândalo do anões dos Orçamento. Uma tropa de deputados e senadores foi flagrada rapinando dinheiro público. Muitos foram cassados ou renunciara­m. Oresultado foi que, em1994, só nove Estados resolveram suas disputas para governador no primeiro turno. Foi a eleição estadual mais puxada e apertada até hoje.

Agora, de acordo com os levantamen­tos disponívei­s, 11 Estados tendem a escolher seus governador­es no primeiro turno. Dos 18 que disputam a reeleição, só 6 estão emprimeiro lugar. Opáreo está duríssimo.

No caso da corrida presidenci­al, o Petrobrasg­ate é ruim para Dilma Rousseff na mesma proporção do benefício possível para Marina Silva. É outro capítulo na mais imprevisív­el de todas as eleições recentes. fernando. rodrigues@ grupofolha. com. br

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil