Folha de S.Paulo

‘ Clamor das ruas’ é ameaça ao país, diz pesquisado­r

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DE BUENOS AIRES

Obrasileir­o Filipe Campante é professor de políticas públicas na escola de governo da Universida­de Harvard.

Campante escreveu umensaio que compara a história econômica de Buenos Aires à de Chicago — ambas foram impulsiona­das por um interior rico, mas Chicago prosperou com novas tecnologia­s, e Buenos Aires estancou.

Ele aponta o fato de a cidade argentina ser também capital como ummotivo para isso. Leia trechos da entrevista.

Folha - Mudar a capital para umlugarrem­ototemimpa­cto econômico significat­ivo?

Do ponto de vista do PIB ou produtivid­ade, pouco. Minha pesquisa mostra que há implicaçõe­s do ponto de vista institucio­nal. Estudei as capitais de Estados dos EUA, e o padrão é que centros de governo em lugares distantes estão associados a pior qualidade de governança: mais corrupção e pior funcioname­nto institucio­nal.

Os mecanismos de responsabi­lização são afetados pelo isolamento. A possibilid­ade de protestos no centro do poder influencia o desejo de mudança?

A ameaça de turbulênci­a política por causa de uma manifestaç­ão na Patagônia é muito menor que na Praça de Maio. Quando se isola a capital, o governo se isola do clamor das ruas. Aconteceu inclusive com Brasília.

Os dois países tiveram muita turbulênci­a no século 20, com deposições e golpes. O primeiro brasileiro que realmente governou de Brasília foi [ Emílio Garrastazu] Médici, de 1969 a 1974. De lá para cá, só um não terminou o mandato, Collor. Mas a Argentina continuou na mesma onda. É no mínimo sugestivo. Noseuensai­o osenhor diz que isso traz umaimprevi­sibilidade grande ao país.

No caso da Argentina, esse clamor das ruas não é o mais desejável do ponto de vista da consolidaç­ão política. A ameaça de que o governo seja chacoalhad­o por manifestaç­ões tem um custo, que é a instabilid­ade. ( FG)

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