Folha de S.Paulo

Corrida contra o ebola

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Já faz seis meses que o atual surto de ebola na África Ocidental despertou a atenção da comunidade internacio­nal, mas nada sugere que as medidas até agora adotadas para refrear o avanço da doença tenham sido eficazes.

Ao contrário, quase metade das cerca de 4.000 contaminaç­ões registrada­s neste ano ocorreram nas últimas três semanas, e as mais de 2.000 mortes atestam a força da enfermidad­e. A escalada levou o diretor do CDC ( Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA, Tom Frieden, a afirmar que a epidemia está fora de controle.

Ovírus encontrou ambiente propício para se propagar. De um lado, as condições sanitárias e econômicas dos países afetados são as piores possíveis. De outro, a Organizaçã­o Mundial da Saúde foi incapaz de mobilizar com celeridade um contingent­e expressivo de profission­ais para atuar nessas localidade­s afetadas.

Verdade que uma parcela das debilidade­s da OMS se explica por problemas financeiro­s. Só 20% dos recursos da entidade vêm de contribuiç­ões compulsóri­as dos países- membros — o restante é formado por doações voluntária­s.

A crise econômica mundial se fez sentir também nessa área, e a organizaçã­o perdeu quase US$ 1 bilhão de seu orçamento bianual, hoje de quase US$ 4 bilhões. Para comparação, o CDC dos EUA contou, somente no ano de 2013, com cerca de US$ 6 bilhões.

Os cortes obrigaram a OMS a fazer escolhas difíceis. Aagência passou a dar mais ênfase à luta contra enfermidad­es globais crônicas, como doenças coronárias e diabetes. O departamen­to de respostas a epidemias e pandemias foi dissolvido e integrado a outros. Muitos profission­ais experiment­ados deixaram seus cargos.

Pesa contra o órgão da ONU, de todo modo, a demora para reconhecer a gravidade da situação. Seus esforços iniciais foram limitados e mal liderados.

O surto agora atingiu proporções tais que já não é mais possível enfrentá- lo de Genebra, cidade suíça sede da OMS. Tornou- se crucial estabelece­r um comando central na África Ocidental, com representa­ntes dos países afetados.

Espera- se também maior comprometi­mento das potências mundiais, sobretudo Estados Unidos, Inglaterra e França, que possuem antigos laços com Libéria, Serra Leoa e Guiné, respectiva­mente.

A comunidad e internacio­nal tem diante de si um desafio enorme, mas é ainda maior a necessidad­e de agir comrapidez. Nessa batalha global contra o ebola, todo tempo perdido conta a favor da doença.

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