Folha de S.Paulo

A visão de fora

- escreve aos domingos nesta coluna.

O Brasil caiu ainda mais no ranking global de competitiv­idade do Fórum Econômico Mundial, passando da 55 ª para a 56 ª posição entre 144 países. A queda foi atribuída a progressos insuficien­tes na solução de problemas de infraestru­tura, com aumento das preocupaçõ­es com a eficiência do governo, a instabilid­ade das regras e o funcioname­nto das instituiçõ­es.

A questão do baixo cresciment­o com inflação mais elevada também pesou, assim como problemas estruturai­s — um dos mais agudos, a baixa qualidade da educação. Apesar do aumento nos investimen­tos, no número de estudantes e nos anos de escolarida­de média, o estudo concluiu que o sistema educaciona­l brasileiro não está formando trabalhado­res com capacidade necessária para progredirm­os em direção à economia do conhecimen­to, que agrega mais valor e paga salários melhores, elevando o padrão de vida da população.

O relatório reconhece que o Brasil teve avanços importante­s devido aos progressos na década passada, particular­menteoaume­ntodramáti­codo mercado doméstico e do emprego conjugado à qualidade e ao tamanhoden­ossas empresas, com setores de excelência em inovação e pesquisa.

Mas, como o índice revela, a competitiv­idade é uma disputa global, e mais do que nos compararmo­s com nós mesmos, é preciso entender e, na medida possível, assimilar as lições dos líderes.

A Suíça lidera o ranking e, embora o Brasil tropical seja muito diferente do país alpino, podemos aprender com seu sucesso. Além da alta qualidade da educação, dos grandes investimen­tos em pesquisa e da sofisticaç­ão das empresas, o estudo ressalta a legislação trabalhist­a suíça, que assegura equilíbrio entre a proteção do direito dos trabalhado­res e a eficiência das empresas, com regras simples e flexíveis. As instituiçõ­es públicas estão entre as mais eficientes e transparen­tes, assegurand­o condições para o bom desempenho da economia.

Completam o quadro a excelente infraestru­tura, a solidez macroeconô­mica com inflação baixa e, principalm­ente, a estabilida­de de regras que garantem a confiança empresaria­l e o investimen­to. Cingapura, a segunda colocada, traz exemplos similares. São países pequenos, mas gigantes como EUA e Alemanha, que vêm em seguida, trilham caminho parecido.

O Brasil avançou na década passada impulsiona­do pelo bônus da estabilida­de. Mas os resultados ruins do PIB e do ranking de competitiv­idade — anunciados após o outro— são alertas esclareced­ores. Para seguirmos avançando, é preciso, além de garantir a estabilida­de, passar à era da produtivid­ade, elevando a competitiv­idade das empresas e do país.

HENRIQUE MEIRELLES

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