Folha de S.Paulo

Empreiteir­as e contas no exterior serão foco agora

- FERNANDO RODRIGUES

DE BRASÍLIA

Os próximos passos da Operação Lava Jato devem ser investigar empreiteir­as, diretores dessas empresas e contas no exterior usadas para o pagamento de propinas a partir de negócios da Petrobras.

Essa é a convicção de um “pool” inédito de advogados e consultore­s a serviço de várias empreiteir­as que estão citadas na investigaç­ão. A Folha falou com várias pessoas desse grupo, que trocam informaçõe­s entre si e com os familiares de presos por causa da Operação Lava Jato.

Nunca as empreiteir­as se juntaram em“pool” para usar umaestraté­gia comumde defesa. Só esse fato já demonstra como consideram grave o episódio atual.

No depoimento de Paulo Roberto Costa, há elementos que indicam de maneira detalhada como eram abertas contas bancárias no exterior. Ele detalhou quais são as empreiteir­as, quem eram os diretores e presidente­s dessas empresas que tratavam do assunto, onde são as contas bancárias e quem eram os beneficiár­ios dos desvios.

Os recursos eram pagos no exterior, pois as empreiteir­as têm subsidiári­as em vários países. Assim ficam menos rastros dos pagamentos. Oretorno das propinas ao Brasil era feito por meio de um esquema com doleiros.

Os advogados e consultore­s com quem a Folha falou não sabem como agir porque o juiz encarregad­o do caso, Sérgio Moro, está tendo o cuidado de impedir falhas processuai­s que permitam a pa- ralisação do processo.

A parte mais visível da investigaç­ão, com o envolvimen­to de congressis­tas e partidos, foi remetida ao STF, pois esse é o foro adequado.

Nenhum réu pode tentar melar apuração sob o argumento de que está sendo incluído em um processo de maneira indevida.

Já a investigaç­ão sobre as empreiteir­as continua com Sérgio Moro, em Curitiba.

Os advogados das empresas estavam neste fim de semana sob tensão máxima e aguardam a qualquer momento uma operação de busca e apreensão nas casas e escritório­s de seus clientes.

Alguns desses diretores já estariam procurando fazer viagens ao exterior para evitar uma prisão inesperada.

A linha de instrução do processo é considerad­a inédita pelos advogados, pois o juiz Sérgio Moro dá sinais de estar mais preocupado em buscar os pagadores das propinas ( empreiteir­as) do que os recebedore­s do dinheiro.

Um elo ainda a ser fechado é como o doleiro Alberto Youssef atuou. Costa está detalhando nos seus depoimento­s como era a gênese do propinodut­o na Petrobras. Já é muita coisa, pois ele sabe quem pagou e quem recebeu.

Ocorre que apenas Youssef será capaz de completar a narrativa, dizendo como exatamente internaliz­ou o dinheiro no Brasil, como efetuou pagamentos, fornecendo datas e locais. O doleiro tem resistido a colaborar.

Seus parentes mandam cartas recomendan­do que conte o que sabe, o que até agora ainda não aconteceu.

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