Folha de S.Paulo

Marina reúne eleitores de espectros diferentes

Dilma tem a maior participaç­ão de esquerdist­as na sua base política, o que ajuda a explicar sua queda nas pesquisas

- MAURO PAULINO ALESSANDRO JANONI

DIRETOR- GERAL DO DATAFOLHA

DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

A pesquisa divulgada neste domingo ( 7) pelo Datafolha mostra o quanto a população se posiciona na disputa presidenci­al por meio do debate de ideias.

O que pode, em primeiro momento, figurar como um paradoxo — candidatur­as que se dizem de esquerda liderando umcenário que tende à direita— é na verdade um indicador de amadurecim­ento dos eleitores.

Revela a capacidade dos brasileiro­s em identifica­r nuances em discursos de diferenças rasas, muitas vezes dominados por ruídos intenciona­is e sem fidelidade ideológica.

Uma leitura das evoluções no período já confirma essa hipótese. A maioria dos que pretendem votar em Dilma, por exemplo, não se enquadra nas categorias de direita.

A presidente é a candidata commaior participaç­ão de esquerdist­as na composição de seu eleitorado. Não surpreende, portanto, o fato de que, no mesmo período em que a taxa de entrevista­dos com classifica­ção à direita subiu seis pontos, o índice de intenção de voto da presidente te- nha caído sete. Emnovembro do ano passado, Dilma tinha 42% das intenções de voto no cenário com Marina e hoje tem 35%.

Como a classifica­ção se baseia em opiniões sobre temas polêmicos, existe necessidad­e de observar emquais pontos há mudanças de posicionam­ento do eleitorado e explorar correlaçõe­s com os acontecime­ntos dos últimos dez meses.

Um dos itens com maior variação nesse espaço de tempo, por exemplo, e que contribuiu para o cresciment­o dos direitista­s refere- se ao papel dos sindicatos.

A imagem da instituiçã­o entre os brasileiro­s piorou desde o final de 2013, reflexo talvez da onda de greves que antecedeu a realização da Copa no país, como a da polícia em Pernambuco e do transporte público em São Paulo e no Rio, amplamente reverberad­as pelo noticiário. DISCURSO BIPOLAR Mas são as posições dos eleitores de Marina Silva em relação aos temas apresentad­os que melhor ilustram o debate da corrida presidenci­al deste ano. Ora com opiniões próximas às dos eleitores de Dilma, ora composiçõe­s mais parecidas com os de Aécio Neves, o segmento reflete o discurso bipolar de sua candidata.

Os que escolhem a ambientali­sta condenam tanto quanto os petistas a posse de ar- mas e a falta de oportunida­de para os pobres, mas defendem, tanto quanto os tucanos, a redução de impostos e menor interferên­cia do governo na economia.

Não é a toa que a ex- ministra do Meio Ambiente atrai 32% dos que são classifica­dos de direita e 35% dos centro- direita, ante 30% e 32% de Dilma nesses estratos.

Como também não parece ser apenas um aceno a empresário­s a declaração da presidente sobre o futuro de sua equipe de governo. Consideran­do a realidade do eleitorado, parece mais, como diria o Leão da Montanha, uma saída estratégic­a à direita.

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