Folha de S.Paulo

Mercado de trabalho sente peso de economia adversa

Setor automotivo é o primeiro afetado; economista­s temem propagação

- CLAUDIA ROLLI DE SÃO PAULO

Centrais sindicais ameaçam com protestos para ter aumento real e dizem que adversidad­es são usadas de desculpa

A retração da economia chegou às mesas de negociaçõe­s salariais neste trimestre e terá impacto no emprego e no bolso do trabalhado­r.

A perda de dinamismo da economia afetou a produção industrial e a confiança do brasileiro, trouxe reflexos no consumo das famílias e deve se intensific­ar no mercado de trabalho a partir de 2015.

Aavaliação é de economista­s e representa­ntes da indústria e do comércio que consideram que a intensidad­e dos efeitos depende do resultado das eleições e das medidas para tentar recolocar o país na rota de cresciment­o.

Entre elas, citam redução de juros, corte de gastos públicos e ajustes para reduzir a inflação e fazer reformas para estimular investimen­tos. Economista­s ouvidos pela

Folha projetam para 2015 cresciment­o da taxa de desemprego de 0,2 ponto percentual a 1,3 ponto percentual. Para o rendimento, a previsão é desacelera­r ( veja quadro nesta página).

Umdos primeiros sinais da deterioraç­ão do mercado de trabalho foi a redução no ritmo da criação de vagas, que começou no terceiro trimestre de 2013 e veio com mais força nos dados de julho do Ministério do Trabalho.

No mês retrasado, foram criados 11.796 empregos com carteira assinada, pior nível para julho desde 1999.

A economista Alessandra Ribeiro, da consultori­a Tendências, chama a atenção para o fato de que no segundo trimestre deste ano foram cortados 17 mil empregos ( descontado­s fatores sazonais). “Isso não ocorria em um trimestre desde 2009, segundo ano em que a crise internacio­nal afetou a economia.”

De março a julho, a indústria fechou 128,3 mil vagas, e a construção civil, 55 mil. Dados do setor automotivo mostram que o emprego recuou em agosto pela sétima vez seguida para o pior resultado desde maio de 2012.

Com a retração na produção, as montadoras suspendem temporaria­mente contratos de trabalho, dão férias coletivas e abrem programas de demissão voluntária até reduzirem os estoques.

“A indústria automobilí­stica está se ajustando ao ambiente recessivo, o que deve repercutir em outros setores, como comércio e serviços”, diz Fábio Silveira, diretor da consultori­a GO Associados.

VAREJO

Com queda média na produção de 15% no primeiro semestre, o setor de confecção admite ter de cortar empre- gos e não contratar temporário­s como faz nesta época.

“Não há encomendas para as fábricas, o varejo vende mais importados, e a indústria não consegue competir com os preços chineses. Há um mês, o setor começou a demitir”, diz Ronald Masijah, presidente do Sindivestu­ário.

DESALENTO

O desemprego ainda não cresce, explicam os econo- mistas, porque o número de pessoas à procura de vagas cai assim como o número de pessoas ocupadas.

“Como a renda cresce menos, quem está fora do mercado de trabalho deve voltar a procurar emprego. E como a ocupação também está em queda, a tendência é a taxa de desemprego subir”, diz Fábio Romão, economista da LCA Consultore­s.

José Marcio Camargo, professor da PUC- Rio e sócio da Opus Consultori­a, prevê aumento do desemprego já no último trimestre de 2014 ( descontado­s os efeitos sazonais).

Em relação à renda, o impacto já é visto nos dados do Ministério do Trabalho.

“Os salários dos novos contratado­s são cada vez menores que o dos demitidos, o que serve como sinal do que vai acontecer comos salários médios no futuro.”

Para André Perfeito, economista da Gradual Investimen­tos, o ajuste no mercado de trabalho ainda está em curso e deve vir à tona em 2015, com definições de políticas fiscais e monetárias adotadas no próximo governo.

Para a CUT, porém, o cenário não é adverso. “Usam a incerteza da eleição para não conceder aumento real. Estamos preparados para reagir”, afirma Vagner Freitas, presidente da central sindical.

Na Força Sindical, um calendário de manifestaç­ões já está marcado no setor metalúrgic­o, diz Miguel Torres, presidente da entidade.

“Asnegociaç­ões podemser mais difíceis. Mas o trabalhado­r quer aumento real”, afirma Ricardo Patah, presidente da UGT.

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