Folha de S.Paulo

Recursos para crédito voltam para o governo

Sem demanda, dinheiro antes retido no BC é reaplicado em títulos públicos

- EDUARDO CUCOLO DE BRASÍLIA

Há quase R$ 750 bi recolhidos pelo Banco Central em operações diárias com o mercado, o chamado “overnight”

Apesar dos esforços do governo para ampliar a oferta de crédito, há quase R$ 750 bilhões — valor recorde— recolhidos pelo Banco Central em operações diárias com o mercado, o “overnight”, para equilibrar a quantidade de dinheiro circulando.

Na comparação com o tamanho da economia, o valor correspond­e a 14% do PIB, maior patamar desde a crise que paralisou a atividade econômica em 2009.

O valor se refere a recursos dos bancos que estavam retidos no BC na forma de depósitos compulsóri­os e que foram liberados nos últimos anos para estimular o crédito e o cresciment­o do país.

Grande parte do dinheiro liberado, no entanto, foi parar de volta nas mãos do governo. Desta vez, por meio da aplicação emtítulos públicos, que é a forma como o BC controla a quantidade de dinheiro no mercado.

Esse tem sido o resultado de uma série de pacotes econômicos anunciados desde a crise de 2008. O governo tenta liberar o dinheiro, mas, como não há demanda por crédito nem disposição de emprestar, os recursos são reaplicado­s pelos bancos.

Isso ocorreu, por exemplo, no biênio 2008- 2009 e a partir de 2012, épocas em que foram feitas grandes liberações de depósito compulsóri­o em momentos de recuo na atividade econômica.

Em 2010, último ano em que a economia apresentou cresciment­o expressivo, por outro lado, essas operações representa­vam praticamen­te metade do que se verifica hoje ( 7,7% do PIB).

Para o economista Miguel Daoud, diretor- sócio da Global Financial Advisor, essa tendência se repete neste ano, como mostram os dados do BC. “Essas medidas têm efeito muito mais midiático e político do que econômico”, afirmou Daoud. “Porque hoje não há disposição do empresaria­do, do investidor e do consumidor em investir.”

Para o ex- diretor do BCCarlos Eduardo Freitas, essa situação deve se manter até que haja uma definição sobre a disputa eleitoral e uma indicação de qual será a política econômica a partir de 2015.

“Eu já esperava por isso. A economia está parada. Tanto pessoas físicas como empresas estão jogando na defesa. E os bancos não estão querendo emprestar”, disse.

O saldo de empréstimo­s bancários desacelero­u em julho pelo sétimo mês seguido e apresentou a menor taxa de expansão do governo Dilma Rousseff — 11,4% ante o mesmomês de 2013. Há três anos, o crédito crescia a uma taxa anual de quase 33%. DÍVIDA O aumento nas operações do BC com títulos ( chamadas de compromiss­adas) é o principal fator responsáve­l pelo aumento da dívida do setor público este ano. Os títulos negociados pelo BC que estão hoje no mercado respondem por quase um quarto ( 24%) da dívida bruta. No fim do ano passado, correspond­iam a menos de 20%.

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