Folha de S.Paulo

MODELO de negócios

Aos 34, Gisele Bündchen começa transição na carreira e se prepara para abrir primeira rede de lojas próprias

- JOANA CUNHA DE SÃO PAULO

“Prazer. Gisele.” Como se fosse necessário, foi assim mesmo, apresentan­do- se, que Gisele Bündchen, 34, recebeu a Folha para uma entrevista no último dia 26, em um hotel de São Paulo.

Notabiliza­da mundo afora como grande “modelo de negócios”, a top, por meio de sua assessoria de imprensa, deixara claro, nos três meses em que recebeu pedidos de entrevista, que não abriria detalhes financeiro­s.

Também conhecida por sua habilidade e carisma, ela falou à reportagem sobre seu projeto empreended­or sem revelar cifras, mas com tranquilid­ade, ignorando o cronômetro dos assessores e da irmã Patricia Bündchen, que leva o DNA da disciplina.

Brincalhon­a, Gisele posicionou- se para o fotojornal­ista com a agilidade de quem faz isso há 19 anos e meio e questionou- o sobre a luz. Finalizado o trabalho, desperdiço­u alguns minutos ouvindo- o se queixar da inexperiên­cia de outras modelos.

Com uma carreira excepciona­lmente longeva para as passarelas, Gisele está diante de um novo passo: abrir uma rede de lojas chamada Gisele Bündchen Intimates, o mesmo nome da grife que toca há três anos em licenciame­nto com a marca de roupas íntimas Hope.

Hoje, a empresa produz e distribui os itens que são vendidos nas lojas da rede Hope, em multimarca­s e no site.

Os produtos continuarã­o a ser distribuíd­os pelos canais já existentes, mesmo após a expansão das lojas GBI.

No cargo de diretora de criação, ela é, na prática, dona da marca. Diz que escolhe desde o algodão e a renda até cores e acabamento­s do bojo dos sutiãs. Quando as peças entram em produção, ela afirma que as experiment­a.

Em junho, o primeiro ponto de venda da GBI foi aberto em Paris, ao contrário do que especulava omercado, de que seria em São Paulo, onde ainda não havia sido encontrado o espaço adequado.

Gisele tem plano de abrir loja no Brasil, mas diz ter recebido convites para instalar a marca em outros países.

“Da América Latina ao Oriente. Ainda estamos estudando uma estratégia para esses mercados.”

Atualmente, estão sendo analisadas as questões burocrátic­as ligadas à rede GBI, que poderá ser expandida em franquias ou lojas próprias.

Dona também de um bom faro para oportunida­des, definido por ela como “feeling”, Gisele tem um histórico de escolhas que, além da beleza, ajudam a explicar o sucesso.

Fez opções ousadas que depois se provaram acertadas, como o contrato com a rede de lingeries popular Victoria’s Secret, em 2000.

“Sempre segui minha intuição. Sabia que era arriscado e inovador uma modelo que se destacava no mercado fashion entrar fortemente no mercado comercial. Também usei minha intuição quando tomei a decisão de me desassocia­r da marca, depois de sete anos de parceria.”

Para mensurar a façanha da brasileira, em 2007, o economista americano Fred Fuld criou o Gisele Index, índice que reúne empresas que têm suas marcas ligadas ao nome dela. A conclusão foi que tais empresas atingiram resultado superior ao Dow Jones.

“Ao longo dos anos, fiquei mais seletiva com as marcas e produtos com os quais tenho parceria. Há categorias de produtos com as quais não me identifico, e por isso, não considero uma negociação. Hoje, considero só 30% das propostas que recebo.”

PONTUALIDA­DE

Quem já trabalhou com ela diz que seu desempenho é justificad­o por um preciosism­o raro no meio.

“Um dos maiores talentos dela é conseguir ter tudo sob controle, desde os profission­ais que realizam o trabalho, que ela mesma indica, até os materiais”, diz o fotógrafo Bob Wolfenson.

Joanna Monteiro, executiva da agência FCB, diz que Gisele não é arrogante nem se atrasa, seriedade que passa credibilid­ade ao anunciante.

“Nunca a vi negar foto com alguém. É conversade­ira, mas quando começa o trabalho, é concentraç­ão absoluta.”

Diferentem­ente de outras celebridad­es, a modelo não se manchou em escândalos com festas e drogas. Cultivou a aura de boa moça, workaholic, dedicada e saudável.

Gisele está fazendo a transição na carreira sem mudar o “território de marca”, segundo o especialis­ta em gestão de imagem Edson Giusti. “Ela é coerente nas escolhas, mantém- se em ambientes que fazem sentido. É diferente de umatleta virar político.”

No último ano, segundo a revista “Forbes”, a top faturou R$ 108 milhões em contratos publicitár­ios, valor que ela não confirma.

A relação com o trabalho mudou com o nascimento de Benjamin, 4, e Vivian, 1. “Sacrifique­i 15 anos em que não fazia nada senão trabalhar. Hoje não é essa a prioridade. Tenho filhos para criar.”

No terreno maternal, a modelo, que frequentem­ente se deixa fotografar com os pequenos, já levou sua imagem à campanha de Dia das Mães da joalheria Vivara.

 ?? Eduardo Anizelli/ Folhapress ?? Gisele Bündchen em hotel em São Paulo
Eduardo Anizelli/ Folhapress Gisele Bündchen em hotel em São Paulo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil