Folha de S.Paulo

Dessaliniz­ação é alternativ­a para abastecer 9 Estados

Especialis­tas dizem que tecnologia usada no Nordeste poderia ser opção para cidades litorâneas de São Paulo

- ARTUR RODRIGUES HELOISA BRENHA DE SÃO PAULO

Técnica consiste em tornar potável a água do mar ou a de poços, com menor concentraç­ão de sal

Desde que o açude secou há dois anos, não sai uma gota das torneiras da comunidade Columinjub­a, em Maranguape ( CE). A única água potável é a que vem dos poços, recolhida em baldes ou galões após passar pela máquina dessaliniz­adora.

Enquanto São Paulo investe em buscar água de reservas cada vez mais distantes, a dessaliniz­ação é alternativ­a já adotada ou em fase de implantaçã­o em pelo menos nove Estados brasileiro­s.

Com o barateamen­to da tecnologia, especialis­tas dizem que a técnica é uma opção de abastecime­nto válida para todo o Brasil.

A tecnologia é utilizada principalm­ente na região Nordeste, onde são instalados sistemas para purificar a água salobra ( comconcent­rações de sal menores que a do mar) do subsolo. No arquipélag­o de Fernando de Noronha, a água é retirada diretament­e do mar.

O método usado emambos os casos é a chamada osmose inversa, em que a água passa por um sistema de membranas. O sal e as impurezas ficam retidas, enquanto a água sai pronta para se beber.

Em Columinjub­a, cada pessoa tem direito de encher dois garrafões de 20 litros, duas vezes por semana. A água é usada para beber e cozinhar — o líquido para outros usos chega por meio de caminhão- pipa. “Se não fosse por isso, a gente não tinha o que beber”, diz Marcelo Gonçalves, 39, que há seis anos opera o dessaliniz­ador.

O programa de dessaliniz­ação brasileiro começou a ganhar força na década de 1990, no governo de Fernando Henrique Cardoso ( PDSB). Nas gestões dos petista Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, foi ampliado. Hoje, o programa Água Doce beneficia 100 mil pessoas em todo o país. A meta é atender 2,5 milhões até 2019.

O coordenado­r do programa, Renato Saraiva, afirma que por enquanto o foco é o Nordeste porque a formação geológica do semiárido faz com que a água adquira as caracterís­ticas das rochas da região, tornando- se salobra.

O Estado de São Paulo ainda não tem nenhum projeto para adotar a alternativ­a. Porém, para o responsáve­l pelo Laboratóri­o de Referência em Dessaliniz­ação da UFCG( Universida­de Federal de Campina Grande), o professor Kepler Borges, nada impede que a técnica seja utilizada.

“A dessaliniz­ação poderia atender principalm­ente as cidades que ficam próximas à costa, o que vem sendo feito em todo o mundo”, diz.

Após umestudo sobre o potencial hídrico da região, afirma ele, a água poderia ser retirada diretament­e do mar ou de lençóis subterrâne­os próximos, onde o líquido tem menos sal devido à ação de filtragem feita pela areia.

França admite que a dessaliniz­ação é mais cara do que os métodos mais comuns. Porém, diz, o custo de- pende muito da distância entre o local de produção da água e o que será abastecido.

Bombear a água do litoral para a Grande São Paulo sairia caro. Mas a dessaliniz­ação poderia abastecer o Rio de Janeiro ou o litoral paulista, com problemas frequentes de falta de água na alta estação. CUSTO Entidades internacio­nais divulgam que o metro cúbico da água dessaliniz­ada custa entre U$ 0,50 e U$ 1. Quem mais adota essa solução são países ricos e com poucas op- ções, como Arábia Saudita.

As membranas utilizadas estão ficando mais baratas. Hoje, um dos principais custos do sistema é o com energia para bombear a água.

No entanto, já existem alternativ­as para baratear esses gastos, diz Renato Saraiva, do projeto Água Doce.

“Com certeza vamos caminhar para uso da água do mar não só para cidades litorâneas, mas também para sistemas produtivos”, afirma. “Mas, para isso, temos que avançar no uso de energias como a eólica e solar.”

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