Folha de S.Paulo

Classe média de São Paulo volta a morar em bairros centrais

Na década de 1990, 38 distritos do centro expandido e adjacência­s perderam 11% de sua população, mostra estudo

- VANESSA CORREA

Área ganhou 8,7% mais moradores na década de 2000; periferia também cresce, mas em ritmo mais lento que antes

DE SÃO PAULO

Depois de buscar o sonho bucólico da casa com quintal e a segurança dos condomínio­s fechados, os paulistano­s ( e seus vizinhos) estão fazendo o caminho inverso.

Agora o que se vê são pessoas cansadas do trânsito e ansiosas por viver na cidade, fazendo um movimento em direção aos bairros do centro expandido ou próximos a ele.

Enquanto nos anos 1990 um grupo de 38 distritos das áreas mais urbanizada­s da cidade perderam 11% de sua população, nos anos 2000 a tendência se inverteu: esses locais aumentaram em 8,7% seu número de moradores.

“Há uma revaloriza­ção da experiênci­a de viver a cidade, especialme­nte entre os jovens, que estão formando umacultura anticarro e de valorizaçã­o do espaço público”, diz Anderson Kazuo Nakano, autor do novo estudo, que é parte de seu doutorado.

Essa mudança de comportame­nto é tendência mundial. Nos EUA, o fenômeno foi esmiuçado pelo livro “The Great Inversion”, de 2012.

Embora o autor daquele texto admita que, em números absolutos, ainda há mais pessoas chegando aos bairros periférico­s dos EUA, os novos moradores são, em geral, imigrantes. Entre as classes médias e altas, a tendência, também mais forte nos adultos jovens, já se inverteu.

Por aqui, a troca de população se dá de forma semelhante. Há 39 distritos que ganhavam população na década de 1990 ( 25,4%) — eles correspond­em basicament­e à periferia da cidade— e que continuara­m a ganhar moradores na década de 2000, mas em um ritmo considerav­elmente menor ( 10,8%). A FUGA “Em um certo momento, o que alimentou essa saída das áreas mais centrais foi a ideia de que a cidade é um lugar sujo, violento. As classes médias e altas buscaram sossego em condomínio­s afastados”, diz o arquiteto e crítico Guilherme Wisnik.

Na última década, explica, “muitos perceberam que a vida urbana é mais interessan­te, variada, da vida cultural e de lugares que podem frequentar à pé”.

Felipe Moraes, 30, fez esse movimento. Em 1996, quando ele tinha 11 anos, sua família foi para o condomínio Alphaville, emBarueri ( Grande São Paulo). “O motivo foi a segurança. Morávamos no Campo Belo [ zona sul, fora do centro expandido] e eu já tinha sido assaltado na rua”.

Dez anos depois, em 2009, Felipe voltou, desta vez para Pinheiros ( zona oeste), para cursar a faculdade de biomedicin­a. “Em São Paulo se faz tudo a pé. Quando meformei, até abandonei o carro. Ia pa- ra o trabalho de bicicleta.”

Não são só os mais jovens que participam da volta. Há seis anos, ao se casar, o vendedor Sílvio de Santos, 50, saiu da Vila Madalena para o distante Jardim Esther, ambos na zona oeste.

Há um ano e meio, Sílvio voltou para perto do centro, em Pinheiros ( zona oeste de novo), para uma quitinete. “Não há amor que resista aos congestion­amentos da Raposo Tavares. Agora tenho vida cultural intensa, moro perto de onde tudo acontece.”

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