Folha de S.Paulo

‘ Cópias’ do Cristo Redentor sofrem com abandono e sujeira pelo país

Em pelo menos sete Estados, estátuas estão degradadas; inseguranç­a afasta turistas

- JULIANA COISSI ENVIADA ESPECIAL A POÇOS DE CALDAS

Em Senador Canedo ( GO), rachadura fez um dos dedos quebrar; padre conta que limpa o local antes de procissão

“Karina, Miguel, Kaio”. Do alto do mirante, Mathyas, 8, lê os nomes escritos no pé da estátua do Cristo Redentor da mineira Poços de Caldas. Escritos, não. Pichados.

A professora Miriam da Silva, 39, puxa o braço do filho para afastá- lo do buraco no parapeito, espaço suficiente para passar o corpo dele, a 14 metros do chão.

Estátuas de Cristo espalhadas pelo país, muitas delas réplicas da imagem que é cartão- postal do Rio, enfrentam abandono. Quando não faltam reparos no próprio monumento, o problema está na estrutura precária ao redor.

Pichações, cheiro de urina, lixo, banheiros inutilizad­os e inseguranç­a “recepciona­m” os turistas que visitam mirantes de municípios, alguns deles turísticos, em Minas Gerais, Bahia, Goiás e Santa Catarina, entre outros Estados.

Prefeitura­s dizem ter projetos para revitaliza­r as estátuas e as áreas no entorno ( leia texto ao lado).

Uma das piores situações é a do Cristo de Senador Canedo, próximo a Goiânia.

A imagem de 16 metros está repleta de rachaduras. Um dos dedos do Cristo quebrou. Quem visita o local vê a base pichada e com janelas e portas depredadas.

“Nas procissões que fazemos na Páscoa, vamos antes limpar em volta para não constrange­r os fiéis”, diz o padre Edvaldo Santos, de uma igreja vizinha ao local.

O Cristo de Araguaína, no Tocantins, também requer reparo. Um dos vidros da base foi furtado e há pichações nas paredes. Anjos de ferro na entrada foram destruídos.

Em Poços, o Cristo de 16 metros erguido em 1958 ajuda a compor a vista do alto do morro, 1.686 metros acima do nível do mar. O cenário atrai quem voa de parapente.

Mas o cheiro de urina, sentido desde a base do teleférico que leva ao Cristo, ajuda a quebrar o encanto.

A própria prefeitura, ciente do odor, estuda fechar o acesso ao Cristo à noite e planeja revitaliza­r o local.

Em Corumbá ( MS), de cujo mirante do Cristo de 12 metros se vê o Pantanal, o que falta é banheiro e estrutura.

“Aqui chega fácil aos 40 º C. O turista podia ter como comprar, lá no alto [ 900 m], uma água, um sorvete”, afirma o guia Florêncio Aponte, 52.

Se a estátua está conservada, há casos em que a inseguranç­a afasta turistas, como no Cristo Crucificad­o, de Vitória da Conquista ( BA).

“Não dá para ir sozinho. Só vou quando tem procissão, com muita gente”, diz Maria Constância Santana, 54.

Há monumentos que foram cenários de violência. Em 2012, em Pouso Alegre ( MG), o Cristo se tornou cativeiro: pai e filho ficaram amarrados a madrugada inteira na base da estátua durante um sequestro.

No mesmo ano, na também mineira Uberaba, vândalos atearam fogo pelo menos três vezes na estátua, hoje recuperada pelos moradores.

Em Barra Velha ( SC), a fina camada de cal deixa evidentes pichações antigas na estátua, além das novas.

Naturístic­a Parintins ( AM), a praça que abriga o Cristo está interditad­a — a prefeitura alega problemas de infraestru­tura na área.

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Estátua do Cristo em Senador Canedo, em Goiás, pichada e com rachaduras
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Fotos Zanone Fraissat/ Folhapress
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No alto, imagem do Cristo Redentor em Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais; acima, estrutura da estátua exibe pichações e aparência de abandono

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