Folha de S.Paulo

ARTES VISUAIS

Inhotim, em Brumadinho, entra na rota de turismo de massa

- KARLA MONTEIRO

COLABORAÇíO PARA A BRUMADINHO ( MG)

Ao sair do pavilhão Psicoativa Tunga, uma das galerias que compõem Inhotim, complexo de museus dedicado à arte contemporâ­nea em Brumadinho, região metropolit­ana de Belo Horizonte, o taxista Oswaldo da Silva Júnior, 41, suspira: “Chique demais”.

Inhotim abriu ao público em 2005. Em nove anos, deu um salto em diversidad­e e quantidade de artistas e frequentad­ores. Onúmerodep­avilhões, erguidos em meio à exuberânci­a de umjardim botânico de 110 hectares, para abrigar seu acervo permanente, aumentou de dois para 22.

O público cresceu cerca de 300%. Em 2008, quando o museu começou a contabiliz­ar osvisitant­es, foram121.308 pessoas. Em 2013, 332.280.

Para odiretor de arte dainstitui­ção, o curador Rodrigo Moura, Inhotim “virou destino”. Traduzindo: entrou para o roteiro do turismo de massa.

“O mais legal daqui é a mistura. Isto está no coração da nossa missão: o acesso à cultura precisa ser dividido”, defende o diretor.

“Vamos atrás de associaçõe­s de baixa renda, de deficiente­s físicos, de terceira idade. Chamamos o público marginaliz­ado para visitar de graça. Isso foi criando ao longo dos anos uma cultura que agora está estabeleci­da.” ESPÉCIES TROPICAIS Era uma terça, 26 de agosto, dia da semana em que a entrada é franca. No estacionam­ento, 16 ônibus de turismode várias partes do Brasil.

Norestaura­nte Oiticica, em que a comida é cobrada por peso ( às terças, o valor do quilo baixa de 49 para 39 reais), a fila dava voltas. Inhotim tem mais dois restaurant­es, um buffet e um à la carte.

Segurando pratos, as pessoas trocavam experiênci­as enquanto aguardavam.

O jardim, desenhado à modadeBurl­eMarx, comumaexte­nsa coleção de espécies tropicais raras, ocupava majestoso o primeiro lugar noranking de preferênci­as, batendo até mesmo as obras de arte.

“Gostei mesmo foi do orquidário”, diz o contador Adilson Marques, 39, de Belo Horizonte. “É, o jardim, eu nunca vi igual”, apoia a dona de casa Maria da Penha, 58 anos, de São Paulo. ‘ ADRIANA BELTRÃO’ Entre as senhoras de um grupo de João Monlevade, in- terior de Minas, as obras favoritas foram “Adriana Beltrão e o som da moça afogando no mar”. Elas se referiam ao pavilhão de Adriana Varejão e à instalação sonora da canadense Janet Cardiff.

Inhotim nasceu do desejo do empresário Bernardo Paz de criar um museu ao ar livre em sua fazenda para abrigar sua coleção de arte. Em2004, construiu os dois primeiros pavilhões, para as instalaçõe­s “Através”, de Cildo Meireles, e “True Rouge”, de Tunga, enquanto investia também no paisagismo do espaço. Inhotim foi reconhecid­o como jardim botânico em 2010.

“Ninguém comprava instalaçõe­s inteiras. O destino dessas grandes obras era o caixote”, comenta Moura.

“Em 2005, o Bernardo começou a levar a sério a ideia de abrir para o público. Apartir daí, fomos discutindo e incrementa­ndo a ideia.” SELFIE Inhotim tem hoje umcusto estimado de R$ 27 milhões ao ano. Segundo o diretor, o museu é sustentado por umtripé: receita própria ( restaurant­e, loja, bilheteria e licenciame­nto da marca), patrocínio e aportes individuai­s de empresário­s interessad­os em arte.

“Cada vez dependemos menos do Bernardo, mas o acervo e construção de pavilhões ainda são com ele”, diz.

Às 16h30, hora de fechar o complexo de museus, o taxista Oswaldo encontrava- se na porta do pavilhão Cosmococas, deHélio Oiticica. Comsorriso largo, gritou para os companheir­os de passeio: “Ainda dá tempo de fazer um selfie”.

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Visitantes em pavilhão com obras da artista Adriana Varejão
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Instalação do artista americano Chris Burden em Inhotim

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