Folha de S.Paulo

Comédia aborda abismo cultural com acidez

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GREG POEHLER tinha um bom emprego de advogado, umavidacon­fortável em Nova York, uma namorada sueca e uma irmã famosa ( Amy, por anos estrela do “Saturday Night Live” ao lado de Tina Fey). Em 2006, aos 31, jogou parte disso para cima e se mudou para o país da amada, no que define como um “reset” de sua vida. Etudo — tudo mesmo— mudou.

Sua experiênci­a meio incrível/ meio catastrófi­ca virou “Welcome to Sweden” ( bem- vindo à Suécia), comédia produzida pelo canal sueco TV4 que a rede americana NBC acaba de exibir nos EUA e agora disponibil­izou em seu site e no iTunes.

A série tem graça porque poucos lugares no mundo ( vá lá, no que convencion­ou- se chamar de “mundo ocidental”) são tão diferentes dos EUA quanto a Suécia, normalment­e evocada pelos americanos como uma espécie de paraíso socialista onde todos vivem em casas com móveis minimalist­as, as ruas são reple-

Greg Poehler, irmão caçula de Amy, usa Suécia para ironizar EUA e brinca com estereótip­os dos dois países

tas de loiras altas de seios fartos e a vida revolve em torno da família e de longas licenças- paternidad­e.

Greg, que na série interpreta o contador Bruce, cheio de clientes famosos, não se esforça para mudar os estereótip­os. Mas os usa com extrema habilidade e ironia para cutucar os próprios compatriot­as.

O enredo é diretament­e extraído da vida do advogado convertido em humorista: profission­al liberal de Nova York larga vida estressant­e para seguir a namorada e vira “dono de casa” na Escandináv­ia. ( Nomundo real, o expatriado acabou achando no showbiz uma nova carreira — isso ainda não ocorreu na série, onde Bruce é um perdedor).

Diz ele em entrevista­s que a famí- lia da mulher, Charlotta, não é doida como a da parceira fictícia, Emma ( Josephine Bornebusch). Na tela, porém, a sogra megera ( Lena Olin, de “A Insustentá­vel Leveza do Ser”) e o engraçadís­simo sogro ( Claes Månsson) são irresistív­eis.

Do lado de Bruce, Greg fez mais uma brincadeir­a ao convocar o ator americano Patrick Duffy, querido em terras nórdicas por seu papel na mítica “Dallas”, para viver seu pai.

Quem já se mudou de país vai se identifica­r com as dificuldad­es de Bruce para se integrar a uma sociedade com senso de humor e regras de convívio completame­nte diferentes dos seus, além de toda a burocracia que a imigração envolve.

Quem nunca viveu fora também pode rir das piadas de celebridad­es que recheiam os episódios. A irmã Amy Poehler deu uma força como produtora e atriz, fazendo uma versão mimada de si mesma e chamando amigos como o colega de “SNL” Will Ferrel ( casado com uma sueca) e a atriz Aubrey Plaza, de sua “Parks and Recreation”, para pontas.

O melhor, no entanto, é a ironia com os próprios americanos, um tipo de humor mais cruel que, combinado à graça apatetada de Greg, faz “Welcome to Sweden” funcionar surpreende­ntemente bem para pú- blicos diversos ( tanto que a segunda temporada já está comprada).

De quebra, a produção sueca dá um quê oitentista à série que cai como alívio em meio a tantas produções caras e pretensios­as que perigam deixar a TV séria demais

 ?? Benjamin Thuresson/ NBC/ Associated Press ?? Bruce ( Greg Poehler) enfrenta a burocracia em ‘ Welcome to Sweden’
Benjamin Thuresson/ NBC/ Associated Press Bruce ( Greg Poehler) enfrenta a burocracia em ‘ Welcome to Sweden’

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