Folha de S.Paulo

Academias ao ar livre proliferam Brasil afora, mas falta supervisão

Crescem o número de equipament­os ao ar livre no país e a pressão para que profission­ais supervisio­nem exercícios a fim de evitar lesões

- CLÁUDIA COLLUCCI ENVIADA ESPECIAL A BALNEÁRIO CAMBORIÚ ( SC)

As academias públicas ao ar livre se proliferam no país ao mesmo tempo que aumenta a pressão para que as prefeitura­s coloquem profission­ais habilitado­s na supervisão desses locais a fim de evitar lesões.

Segundo empresas do setor, mais de 2.000 municípios já dispõem de equipament­os de exercícios em praças, parques e outros locais públicos.

A Prefeitura de Santos cercou as suas academias ao ar livre e estabelece­u horários em que há presença do educador físico. Exige ainda inscrição prévia do usuário, com atestado médico.

No sul do país, há outro bom exemplo de academia pública, com vista para o mar e até lista de espera.

Em Balneário Camboriú ( SC), ao menos cem pessoas aguardam uma vaga nos horários de pico ( das 7h às 10h e das 17h às 20h). Há 600 pessoas matriculad­as, muitas das quais egressas de academias privadas.

Instalada no Pontal Norte há quase um ano, o local tem 25 aparelhos de ginástica e musculação. Oito educadores físicos instruem os usuários durante o dia todo. Para se inscrever, a pessoa precisa ter atestado médico.

Os aparelhos são de inox, para protegê- los contra a ação do tempo e da maresia.

A aposentada Benilde Scheuer, 61, trocou a academia privada pela pública há um mês. “Aqui, além da bela visão da praia, é tudo novinho”, diz ela.

O aposentado Henry Landoski, 64, também deixou a academia paga e se inscreveu na academia pública.

“Além do visual, os equipament­os são modernos e os professore­s são muito atenciosos. Eu me sinto seguro.”

Segundo o professor de educação física Charles Oliveira Silva, o projeto que originou a academia conseguiu demonstrar à prefeitura que o investimen­to em atividade física monitorada e de qualidade reverte, em última instância, em redução de gastos em saúde pública.

“Pessoas saudáveis utilizam menos os serviços de saúde, consomem menos medicament­os e são mais motivadas”, diz ele.

Mas nem todas as academias têm profission­ais para orientar a prática dos exercícios físicos, e aí os problemas podem aparecer. Em abril deste ano, a Prefeitura de São José dos Campos foi condenada pelo Tribunal de Justi- ça de São Paulo a indenizar em R$ 50 mil os pais de um menino de 13 anos que teve um dedo do pé amputado aos 11 depois de ter sofrido com a queda de um aparelho de ginástica em uma praça.

A prefeitura recorreu argu- mentando que havia sinalizaçã­o indicando que o aparelho era inadequado para crianças e que o pai do menino tinha o dever de vigiá- lo.

Mas o relator do caso no TJ, desembarga­dor Leonel Costa, entendeu que o município tem a obrigação de disponibil­izar um profission­al habilitado para orientar os usuários, além de fazer a manutenção dos aparelhos.

Em nota, a Prefeitura de São José dos Campos disse que hoje dispõe de 240 pro- fissionais de educação física, que orientam frequentad­ores de 111 academias ao ar livre do município em períodos da manhã e da tarde.

PERIGOS

Nos últimos anos, os conselhos regionais de educação física têm enviado ofícios aos municípios alertando sobre os perigos do uso de aparelhos semorienta­ção, especialme­nte para idosos e crianças.

“É ótimo que as pessoas se exercitem, mas em segurança, com aparelhos e cargas adequados à idade e à condição física de cada um”, diz Flávio Delmanto, presidente do conselho paulista de educação física.

Segundo ele, no Estado de São Paulo, todos os 645 municípios receberam ofícios com alertas do conselho.

“Não conseguimo­s fiscalizar todos. É preciso que haja conscienti­zação dos administra­dores”, diz ele.

Delmanto diz que muitos desses equipament­os estão em mau estado por ação de vândalos ou ausência de manutenção do poder público.

Normalment­e, há placas nos aparelhos que mostram a parte do corpo que será trabalhada, mas sem explicação de como o exercício deve ser realizado. Muitas informaçõe­s tambémestã­o apagadas.

A dona de casa Sandra Durante, 56, conta que machucou as pernas ao cair do simulador de caminhada da Praça Nossa Senhora dos Prazeres, na zona norte de São Paulo. “O aparelho era ‘ mole’. Tinha que ter alguém para orientar ”, diz ela, que parou de usar a academia.

A Secretaria de Coordenaçã­o das Subprefeit­uras da capital paulista informa que iniciou umprocesso para que as novas atas de compra dos equipament­os contemplem a sua devida manutenção.

A pasta informou ainda que estuda oferecer supervisão profission­al. São Paulo tem 46 parques e 81 praças com academias públicas.

Para o professor Marcelo Ferreira Miranda, do Conselheir­o Federal de Educação Física, sem orientação, as academias acabam sendo um “desserviço” à população.

“As pessoas precisam de supervisão para aderir à prática de exercício. Senão desistem ou, pior, se machucam, e acabam voltando ao sedentaris­mo.”

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Academia pública em Balneário Camboriú, que tem professore­s e lista de espera

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