Folha de S.Paulo

Record faz ‘ House of Cards’ tupiniquim

Emissora lança ‘ Plano Alto’, série sobre bastidores do poder em três gerações de políticos de uma mesma família

- VITOR MORENO DE SÃO PAULO

Os bastidores da política brasileira atual são o mote de “Plano Alto”, que a Record estreia no fim do mês, em meio à corrida eleitoral. A minissérie de 12 capítulos pretende mostrar articulaçõ­es por interesse e jogos do poder, bem à moda de “House of Cards”.

Oautor, MarcílioMo­raes, 70, diz ter usado a série que mostra a escalada ao poder de um congressis­ta americano sem escrúpulos como referência. Porém, afirma queamaiori­nspiração veio de sua vivência comofiliad­o doPartido Comunista Brasileiro nos anos 60.

“Meu interesse é mostrar a trama política por dentro, sem julgamento de bem e mal. É um conjunto de pessoas que está num jogo de poder, cada um lutando com sua arma.”

Atrama terá umconcorre­nte à Presidênci­a que morre em meio à campanha, o que acaba embolando a disputa eleitoral. Asemelhanç­acomaacide­nte do então candidato Eduardo Campos, no entanto, é mera coincidênc­ia, já que o texto foi escrito nofim de 2013.

Moraes acredita que o momento para o lançamento da série é “muito apropriado”. “A política passou para o primeiro plano do debate nacional há algum tempo, mas agora está mais quente do que nunca”, afirma o autor.

A trama de “Plano Alto” mostra três gerações de homens “contestado­res”, cada uma sua maneira. Guido Flores ( Gracindo Jr.) é governador do Rio de Janeiro e foi exilado político durante a ditadura militar. O filho dele, João Titino ( Milhem Cortaz), é deputado federal e ex- cara pintada. Já o neto, Rico ( Ber- nardo Falcone), se envolve com o movimento dos “black blocks” durante as manifestaç­ões de junho de 2013.

Guido, candidato à Presidênci­a, sofre um revés ao ser envolvido em um escândalo de corrupção emseugover­no. Uma CPI, em torno da qual se desenvolve toda a história, é instalada para apurar os fatos.

“A intenção dele é a melhor possível, mas o jogo político tem muitas cartas marcadas”, defende Gracindo. “Não acredito que ele tenha feito nada grave, mas ele se envolve, sim, em coisas que são considerad­as normais dentro da nossa política.”

A relação de Guido com o filho é, em princípio, distante. João Titino, candidato a prefeito do Rio de Janeiro, é definido por seu intérprete como “honesto”. Porém, ele acaba usando artimanhas para tentar salvar o pai.

“É quase impossível não se envolver nessa máquina política”, afirma Cortaz. “Agora que comecei a entender, vejo o pragmatism­o que rola. É fácil ver dois opositores rindo e, minutos depois, um deles subir à tribuna para acabar com o outro.”

Já o neto Rico, que foi criado pela avó longe de qualquer envolvimen­to com a política, vai a uma manifestaç­ão influencia­do pela namorada e acaba preso injustamen­te.

“Ele começa a ver que está tudo errado, que as pessoas têm direito de reivindica­r, e começa a se envolver de fato”, diz Falcone. “Ele começa a fazer o que a avó não queria, que é repetir a história do pai e do avô, que foram manifestan­tes em suas épocas.”

Oautor diz que deixou ganchos para uma possível segunda temporada, ainda não confirmada pela Record.

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Divulgação/ Rede Record Guido Flores ( Gracindo Jr.) depõe em CPI

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