Folha de S.Paulo

Ação policial e eleição esvaziam protestos

Movimentos sociais atribuem enfraqueci­mento de atos após a Copa ao aprimorame­nto de técnicas de ‘ repressão’

- GIBA BERGAMIM JR.

Período eleitoral também afastou os militantes de partidos que engrossava­m as manifestaç­ões nas ruas

DE SÃO PAULO

Pouco mais de 50 jovens se reuniram na noite da última quinta- feira ( 4) para um protesto contra uma lei estadual que proíbe ativistas de cobrir o rosto em manifestaç­ões.

Minutos após o início do baile de máscaras — nome dado ao ato—, policiais com escudos cercavam a praça Roosevelt, no centro de São Paulo, que foi ficando mais vazia.

O episódio é um retrato do enfraqueci­mento das manifestaç­ões no país, especialme­nte em São Paulo. No auge das chamadas jornadas de junho de 2013, por exemplo, um dos protestos ocorridos na cidade juntou 65 mil pessoas, segundo o Datafolha.

ComofimdaC­opadoMundo e da alta exposição a que o país foi submetido, minguaram os manifestan­tes dispostos a ir às ruas para reivindica­r direito e melhorias.

Integrante­s de movimentos sociais atribuem esse esvaziamen­to à repressão policial, à ausência de uma pauta que unifique diferentes grupos de manifestan­tes e ao período eleitoral.

Protagonis­ta das jornadas de junho de 2013, o Movimento Passe Livre — com sua bandeira da tarifa zero de transporte coletivo— diminuiu sua participaç­ão em atos.

Foi justamente o Passe Livre que deflagrou os atos que levaram milhares de pessoas às ruas até que fossem redu- zidas as tarifas de ônibus em cidades do país, em 2013.

“OPasse Livre continua fazendo trabalhos de base por uma conscienti­zação duradoura sobre o transporte coletivo, diz Lucas Monteiro, que integra o movimento.

“Não podemos inventar protestos e fazê- los todos os dias. A gente faz de acordo com a demanda.”

As técnicas de repressão do Estado foram aprimorada­s, diz, o que faz os grupos “repensarem suas táticas”.

EmSão Paulo, além de ampliar o policiamen­to nas manifestaç­ões, a PM criou a tropa do braço — formada por policiais desarmados para imobilizar ativistas— e equipou a Tropa de Choque.

A Polícia Civil intensific­ou investigaç­ões, que acabaram na prisão de ao menos cinco manifestan­tes neste ano. CONJUNTURA Grupo que organizou boa parte dos protestos contra a Copa, emmaio e junho, o Território Livre tambémreco­nhece recuo dos atos. O grupo só tem participad­o de manifestaç­ões a favor da greve realizada por funcionári­os da USP.

“Era natural [ a diminuição de protestos]. Havia umaconjunt­ura especial [ durante a Copa], que fez com que grupos de ideais diferentes se unificasse­m. Agora, com as eleições é mais difícil haver isso”, disse Rafael Padial, integrante do movimento.

Com as eleições, partidos de oposição aos governos federal e estadual que engrossava­m atos se afastaram das manifestaç­ões ao lado de movimentos sociais, sobretudo porque há grupos em defesa do voto nulo, encabeçado­s pelo Território Livre.

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Drago/ Folhapress Jefte Nascimento, 30, preso sob acusação de fazer protestos violentos e depredar uma agência bancária, segundo a polícia

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