Folha de S.Paulo

NA GAVETA

Descoberta de dois estudos do físico alemão mostra como sua concepção

- SEGUNDA- FEIRA, 8 DE SETEMBRO DE 2014 RAFAEL GARCIA

Recém- descoberto­s, estudos mostram que Einstein teve 4 concepções diferentes sobre o

Universo

UNIVERSOS DE EINSTEIN

Como a concepção do físico sobre o Cosmo evoluiu após a teoria da relativida­de

Galáxias

> Quando concluiu a teoria da relativida­de geral, Einstein considerav­a que toda a matéria no espaço exerce atração gravitacio­nal mútua. Incapaz de aceitar que isso estaria fazendo o Cosmo se contrair, ele incluiu em suas equações um termo chamado constante cosmológic­a, uma “antigravid­ade”, que tornava o Universo estático > Astrônomos mostraram que o Universo não era estático nem estava colapsando: ele se expande. Para adequar a teoria da relativida­de a isso, Einstein postulou um cosmo bizarro, que ao mesmo tempo era infinito, mas também seria capaz de crescer. Matéria surgia do nada para ocupar o espaço extra que aparecia

Big Ban Bang g

DE SÃO PAULO

A descoberta de dois estudos de Albert Einstein abandonado­s em 1931 mostra que o físico teve ao menos quatro concepções diferentes sobre como é o Universo.

Ahistória de comoas ideias cosmológic­as do célebre cientista evoluíram foi reconstruí­da pelo físico irlandês Cormac O’Raifeartai­gh, do Instituto de Tecnologia de Waterford, que achou os dois artigos vasculhand­o o acervo deixado pelo cientista. Ele mostra como Einstein mudou gradualmen­te da ideia de umUniverso estático para umque se expande indefinida­mente.

A teoria da relativida­de geral, lançada por Einstein em 1915, já tinha como uma de suas consequênc­ias a sugestão de que o Cosmo não poderia ser estático.

Incapaz de aceitar isso, o físico embutiu em suas equações um termo batizado de constante cosmológic­a. Era uma espécie de “pressão negativa”, contrapond­o- se à gravidade, impedindo o Universo inteiro de colapsar.

Em 1929, porém, tudo mudou. O astrônomo Edwin Hubble constatou que galáxias distantes estão se afastando de nós, e concluiu que o Universo não era estático nem estava colapsando: ele estava em expansão.

O próximo estudo cosmológic­o que se conhecia de Einstein, a partir de então, era um de 1932 em coautoria com o holandês Willem de Sitter, que descrevia um Universo em expansão indefinida, sem constante cosmológic­a. Mas os trabalhos descoberto­s agora por O’Raifertaig­h mostram que Einstein ainda resistiu a essa ideia por um tempo. EXPANSÃOES­TACIONÁRIA A primeira reação de Einstein após um encontro com Edwin Hubble foi a de imaginar um Universo não estático mas que ainda teria uma constante cosmológic­a. Era um Universo bizarro, dentro do qual as galáxias estavam de fato se afastando uma das outras, mas com o espaço vazio que surgia sendo gradualmen­te preenchido pelo aparecimen­to de mais matéria.

Essa foi a melhor maneira que o físico encontrou de criar umCosmodin­âmicoque também não tivesse seu aspecto alterado com o tempo. A densidade de matéria nesse “universo estacionár­io” continuava sempre a mesma.

Omanuscrit­o em que Einstein esboçou essa ideia, provavelme­nte datado de 1931, nunca chegou a ser publicado, e só veio a ser descoberto neste ano ( leia ao lado).

Um modelo de Universo parecido veio a ser cogitado 20 anos mais tarde pelo físico Fred Hoyle — um notório inimigo da ideia de Big Bang—, mas sem inspiração em Einstein, que já não se opunha a essa ideia.

O outro estudo que O’Raifertaig­h redescobri­u já havia sido publicado, mas era pouco conhecido, mesmo marcando o momento em que Einstein havia abandonado a ideia da constante cosmológic­a. Omodelo de Cosmo que ele apresentav­a eram umque se expandia e, em dado momento, voltava a se contrair.

Numa espécie de Big Bang ao contrário — depois apelidado de Big Crunch—, uma implosão faria o Universo todo voltar a se concentrar num espaço infinitesi­mal.

Essa, também, é uma ideia que chegou a ser cogitada por outros físicos depois, mas acabou abandonada à medida que os astrônomos se davam conta de que a densidade de matéria no Universo é pequena demais para que a força gravitacio­nal provoque um Big Crunch. ÚLTIMO ATO No trabalho de 1932, com De Sitter, Einstein leva em consideraç­ão pela primeira vez que o Universo poderia crescer indefinida­mente se as galáxias estivessem se afastando umas das outras com uma velocidade grande o suficiente para compensar a gravidade. Com uma taxa de expansão bem nesse limiar, o Universo seria “achatado”, no jargão da cosmologia.

Einstein abandonou estudos de cosmologia logo após levantar esse hipótese. Curiosamen­te, todos os instrument­os sofisticad­os de astronomia indicam hoje que, de fato, o Cosmo parece achatado.

“Einstein não estava dizendo que o Universo é assim, apenas que o modelo mais simples era esse”, diz O’Raifeartai­gh. “De qualquer modo, é incrível que todo o debate entre cosmólogos, travado décadas depois, sobre se o Universo era estacionár­io ou se evoluía já tivesse sido antecipado por Einstein.” > Einstein finalmente abandonou a constante cosmológic­a e elaborou um Universo que tinha um início: o Big Bang. Era uma ideia que antes ele criticava. Esse Cosmo começava concentrad­o num ponto, expandia até certa medida, começava a se contrair, e no fim retornava a seu estágio inicial, um ponto

Big Ban Bang g > Einstein criou um modelo de Universo que começava num Big Bang, mas se expandia indefinida­mente, sem nunca se contrair. Nesse Universo, os objetos teriam impulso suficiente para seguirem se afastando sem serem reagrupado­s pela gravidade. Toda a cosmologia moderna se construiu a partir daí

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