Folha de S.Paulo

Abandonada­s pela população, cédulas trilionári­as do Zimbábue chegam ao fim

- Cédulas de 5 bilhões de dólares do Zimbábue em Harare

DO “FINANCIAL TIMES”

Um dos poucos bancos centrais a fazer com que a Alemanha dos anos 1920 pareça um período de prudência monetária e estabilida­de está enfim jogando fora a moeda de seu país.

O Banco de Reserva do Zimbábue ( RBZ) anunciou que, no dia 15, iniciará o processo de “desmonetiz­ação” da moeda, que perdeu praticamen­te todo o valor.

Até 30 de setembro, as cédulas podem ser trocadas por dólares dos EUA. Depois, perderão o valor, nada muito diferente da situação atual: contas com saldo de zero a 175 quatrilhõe­s de dólares do Zimbábue serão convertida­s ao valor fixo de US$ 5.

“Hiperinfla­ção” mal começa a explicar os problemas monetários do Zimbábue, que usa 15 zeros na denominaçã­o de sua moeda.

Desde 2008, o país deixou de publicar dados sobre alta de preços. Naquele momento, a inflação era de 231 milhões por cento ao ano.

Para comprar produtos, os zimbabuens­es dependiam em larga medida de acesso ao dólar dos EUA e ao rand ( moda sul- africana), que chegavam ao país na forma de remessas de trabalhado­res expatriado­s. Em 2009, o Zimbábue adotou o dólar americano como moeda principal.

Os problemas econômicos remontam à decisão do ditador Robert Mugabe de implementa­r um controvert­ido programa de reforma agrária que levou ao confisco forçado — e ocasionalm­ente violento— de fazendas que eram propriedad­e de brancos, em 2000.

Isto levou ao colapso do setor agrícola, e a economia descambou para o caos, e com a disparada da hiperinfla­ção as prateleira­s dos supermerca­dos do país se esvaziaram, e o banco central começou a imprimir notas de 100 trilhões de dólares do Zimbábue que perdiam o valor praticamen­te no minuto em que a tinta secava.

Tradução de

PAULO MIGLIACCI

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Tsvangiray­i Mukwazhi/ Associated Press

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