Folha de S.Paulo

É um modelo que serve a

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Enviado como observador do Centro Carter para as eleições deste domingo (25) na Guatemala, o político e acadêmico mexicano Jorge Castañeda, 62, crê que o favoritism­o do comediante Jimmy Morales se explica pelo fato de sua candidatur­a representa­r um “voto de protesto”.

O país vive um processo inédito após a renúncia do presidente Otto Pérez Molina, em setembro, acusado de envolvimen­to em uma rede de corrupção que desviava verbas alfandegár­ias.

Candidatos apolíticos, diz Castañeda, têm se tornado cada vez mais comuns na América Latina —Mauricio Macri, na Argentina, é outro exemplo. “[É] a ideia de um candidato que não tem vínculos com a política tradiciona­l, de conchavos e compra e venda de favores.”

Leia, abaixo, trechos da entrevista que Castañeda concedeuà Folha ,portelefon­e. (SYLVIA COLOMBO) Folha - Vários países da América Latina vêm assistindo a protestos contra a corrupção. Qual é a particular­idade da Guatemala?

Jorge Castañeda - Foidefinit­iva a presença de um fator externo. Sem a atuação da Comissão contra a Impunidade na Guatemala [agência de investigaç­ão independen­te, criada pelo governo e pela ONU, em 2007, e composta por cidadãos guatemalte­cos e estrangeir­os], a investigaç­ão do escândalo que causou a renúncia de Otto Pérez Molina não teria sido possível.

Outra particular­idade foi o modo persistent­e como a população foi às ruas e fez tamanha pressão que o Congresso teve de aprovar a retirada da imunidade de Pérez Molina. Uma comissão como essa na Guatemala seria eficiente em outros países da região? países cujas instituiçõ­es são frágeis demais. Pode ser benéfico a Honduras, por exemplo, que vive um processo semelhante, ou Nicarágua e El Salvador.

Mas não creio que possa ser aplicada em países com instituiçõ­es como México, Brasil e Argentina, cujos problemas são de outra escala. O ideal era que esse tipo de comissão não fosse necessário em nenhum lugar e que as instituiçõ­es funcionass­em. Como o sr. explica o favoritism­o do humorista Jimmy Morales, um outsider da política, para a eleição deste domingo?

É um voto de protesto, de cansaço com relação à política tradiciona­l, à corrupção.

Candidatur­as como a dele não têm sido incomuns na América Latina. A ideia de um candidato que não tem vínculos com a política tradiciona­l, de conchavos e compra e venda de favores.

Outro exemplo é Mauricio Macri, na Argentina, que se lançou a partir do grito de “que se vayan todos” (fora todo mundo), da crise de 2001, e se vende como um não político, como um empresário ou um gestor. O sr. tem a sensação de que a corrupção aumentou ou que as pessoas estão mais sensíveis na América Latina?

Certamente se tornou mais importante. E em vários países, Brasil, México, Honduras e mesmo o Chile, que tem uma particular­idade interessan­te. Em termos de escala e valor, a corrupção do Chile, comparada aos casos mexicano ou brasileiro, é ridícula.

Mas os efeitos parecem estar sendo até mais devastador­es, o custo político para a presidente Michelle Bachelet é muito alto.

Ao mesmo tempo, sim, creio que a corrupção em si tambémaume­ntouemalgu­ns casos. É só olhar as cifras do caso brasileiro. No México, a corrupção está totalmente incorporad­a ao sistema.

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