Governo segura por seis horas votos apurados
Maria Eugenia Vidal apareceu rouca nesta segunda (26) para falar com os jornalistas, na porta de sua casa, no bairro de Castelar, Buenos Aires. Na noite de domingo, Vidal foi uma das primeiras lideranças do Mudemos a começar a gritar, cantar e celebrar a boa performance da coalizão, horas antes de os resultados oficiais saírem.
Aos 42, a advogada nascida em Flores, mesmo bairro de classe média baixa do papa Francisco, será a primeira mulher no comando da província de Buenos Aires, a mais populosa e de maior relevância eleitoral da Argentina, com 37% dos votos.
Destronará assim o peronismo, que governava a província havia 28 anos —desde 2007, com Daniel Scioli, candidato de Cristina Kirchner a sucedê-la na Presidência.
Desde o início da campanha, a ex-ministra de Desenvolvimento e ex-prefeita da cidade de Buenos Aires optou por uma estratégia de corpo a corpo. “Os moradores da província queriam mudança e queriam alguém que falasse diretamente com eles. Eu fui de casa em casa e vou voltar para agradecer os que confiaram em mim”, disse.
Ela superou por cinco pontos o candidato governista, Aníbal Fernández, atual chefe de gabinete de Cristina Kirchner e um dos principais nomes do kirchnerismo.
Nos últimos meses, a candidatura de Fernández sofreu desgaste por denúncias de envolvimento com o tráfico de drogas trazidas à tona pelo jornalista Jorge Lanata.
“Há uma mudança geracional e ideológica na província de Buenos Aires, e o Mudemos surge com uma nova maneira de fazer política”, disse à Folha Nicolás Ducoté, 45, prefeito eleito de Pilar, também na província.
“Não usamos ‘punteros’ [líderes comunitários que distribuem benefícios], nos comunicamos diretamente e usamos redes sociais, onde as pessoas, jovens sobretudo, estão mais conscientes.” MACRI A preferência dos eleitores da província por Vidal ajuda a explicar a boa votação de Mauricio Macri na região.
Nas últimas semanas, acompanhado dela, o candidato percorreu as principais localidades, onde mostrou sua versão “peronizada”: elogiou ideias do general Juan Domingo Perón e prometeu manter planos assistencialistas e nacionalizações.
A eleição de Vidal também marca a renovação de outras lideranças na região. Algumas localidades trocaram seus chamados “barões”, que estavam no poder havia mais de dez anos, por lideranças jovens de partidos diferentes.
Foi o caso de Tres de Febrero, onde Diego Valenzuela (Mudemos), 44, destronou Hugo Curto, no poder havia 24 anos. Em Malvinas Argentinas, Jesús Cariglino (aliado do terceiro colocado à Presidência, Sergio Massa) perdeu o posto após 20 anos para Leo Nardini, 34, da Frente para a Vitoria, de Scioli.
Eufórica na noite da eleição como outros integrantes do Mudemos, Vidal disse estar “fazendo história” na província. “Conseguimos o impossível: substituir a resignação pela esperança, o passado pelo futuro.”
DA ENVIADA A BUENOS AIRES
A demora no anúncio dos resultados parciais oficiais, na noite de domingo (25), gerou expectativa nos argentinos e desconfiança por parte da oposição.
Demorou seis horas, após o fechamento das urnas, para saírem os primeiros números. Então, apenas 30% das seções estavam contabilizadas, com Mauricio Macri ligeiramente à frente —o resultado virou a favor de Daniel Scioli pouco depois.
Na Argentina, o próprio Poder Executivo organiza eleição e apuração. Quem divulgou os primeiros números, já na madrugada de segunda (26), foi o ministro da Justiça, Julio Alak.
Alejandro Tullio, da Direção Nacional Eleitoral, justificou o atraso dizendo que se tratava de uma eleição muito difícil de contabilizar, devido ao tamanho das cédulas e ao alto índice de “corte de boleta”.
Na Argentina, não há voto eletrônico ou cédula única: vota-se com material impresso e distribuído pelos partidos. Se um eleitor quer votar em candidatos de siglas diferentes, deve recortar as “boletas” dos partidos e inserir na urna os pedaços relativos aos seus candidatos. (SC)