Folha de S.Paulo

Receita quer quebrar sigilo de antiga cantina da filha de Gilberto Carvalho

Recomendaç­ão do órgão aparece em relatório anexado ao inquérito da Operação Zelotes

- GABRIEL MASCARENHA­S RUBENS VALENTE

‘Tem que ir atrás das possibilid­ades’, diz coordenado­r-geral de Investigaç­ões do órgão ao justificar a medida

Em um relatório anexado ao inquérito da Operação Zelotes, a Coordenado­ria de Investigaç­ão da Receita Federal recomendou a quebra dos sigilos fiscal e bancário de cinco empresas, dentre as quais um restaurant­e que pertenceu à filha de Gilberto Carvalho, ex-ministro da presidente Dilma Rousseff e ex-chefe de gabinete do ex-presidente Lula.

Os investigad­ores da forçataref­a da Zelotes afirmam que Carvalho estava “em conluio” com o lobista Mauro Marcondes, preso na segunda (26) por suspeita de ter participad­o de negociaçõe­s para a compra de uma medida provisória com benefícios fiscais ao setor automotivo.

A Receita propõe derrubar os sigilos da Cantina Sanfelice de 2008 a 2015, estabeleci­mento em Brasília que pertencia à filha de Carvalho e seu ex-marido. Segundo o exministro, o restaurant­e quebrou e foi vendido, com dívidas

Gilberto Carvalho de mais de R$ 1 milhão.

À Folha, o coordenado­rgeral de Pesquisa e Investigaç­ão da Receita, Gerson Schaan, defendeu a medida: “O ciclo do dinheiro não está fechado, então tem que ir atrás das possibilid­ades. Há elementos fortes de que houve pagamentos para a MP ser aprovada. A gente tem que indicar para quem foram esses pagamentos”, afirmou.

Ele não soube informar se o Ministério Público Federal acolheu a recomendaç­ão ou se as quebras de sigilo foram autorizada­s pela Justiça.

Questionad­o sobre a participaç­ão do ex-ministro nas negociatas relativas a medidas provisória­s, Schaan afirmou que “isso faz parte da investigaç­ão”. Lembrou que, embora investigad­o, Carvalho não foi alvo de prisão, condução coercitiva ou buscas.

“Na tramitação, uma medida provisória passa nas mãos de muita gente. A maior parte não faz ideia do que pode estar por trás daquele assunto, muitas vezes importante para o país, mas que tem problema na origem.” POLÍTICOS Sobre a eventual participaç­ão de parlamenta­res em negociaçõe­s para venda de medidas provisória­s, ele disse: “É uma possibilid­ade que tem que ser investigad­a”.

No mesmo relatório em que recomenda as quebras de sigilos, a Receita apontou que a empresa LFT Marketing Esportivo, de Luis Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente, não tem funcionári­os. Ressalta que, apesar disso, a LFT, recebeu R$ 1,5 milhão da Marcondes & Mautoni, da qual Mauro Marcondes era sócio. Luis Cláudio diz que prestou serviços de marketing à M&M.

“Tal constataçã­o [...] aduz ao questionam­ento sobre que tipo de serviço foi prestado pela LFT à Marconi & Mautoni que motivou pagamento de tão grande quantia”, indagaram os auditores no relatório.

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