Ex-ministro nega tráfico de influência e negociação de MPs
Em depoimento à CPI do BNDES da Câmara nesta terça-feira (27), o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega negou que tenha havido tráfico de influência para decidir empréstimos do banco ou para editar medidas provisórias sobre redução de impostos.
“Nunca fui procurado para coisa dessa natureza e, se tivesse sido, teria sido repelido [o pedido]”, disse o ex-ministro da Fazenda ao comentar uma declaração de um colega de Esplanada.
Na segunda (26), o ex-ministro Gilberto Carvalho disse ter orientado um dos presos na Operação Zelotes, Mauro Marcondes, a tratar com Mantega sobre a renovação de uma medida provisória. A Polícia Federal suspeita que tenha havido repasse de propina de empresas que teriam sido beneficiadas pela MP.
Defendendo o governo, Mantega afirmou que tanto as MPs como as políticas de incentivos ficais foram discutidas amplamente pela sociedade e aprovadas pelo Congresso Nacional.
Sobre empréstimos para empresas que depois viraram alvo de operações da PF, o exministro disse que o BNDES tomava os cuidados necessários antes de realizar operações financeiras.
“Se depois houve alguma irregularidade, o BNDES não poderia saber”, afirmou. Ele também negou ser amigo do empresário Vitor Sandri, citado na Zelotes como beneficiado por decisões do Carf, conselho de recursos de multas da Receita Federal, órgão ligado à Fazenda. CRISE O ex-ministro passou quase quatro horas respondendo a deputados, a maioria da oposição. Grande parte dos questionamentos foi sobre o que levou o governo a usar o BNDES para fazer empréstimos subsidiados.
Mantega reconheceu a gravidade da crise atual, mas defendeu seus quase nove anos à frente do ministério. Segundo ele, o período não foi um “voo de galinha”, já que houve crescimento médio de 3,5% ao ano do PIB.
O ex-chefe da Fazenda culpou mais uma vez a crise econômica mundial de 2008 pelos problemas que o país atravessa, dizendo que ela “dura até os dias de hoje”. Argumentou que a crise —após afetar os Estados Unidos e a Europa— agora atinge também os países emergentes.
“O nosso problema é que a crise continuou e não permitiu sucesso maior. Navegamos com vento contrário”, afirmou ao ser questionado sobre a redução do crescimento do PIB desde 2011.
Sobre o que levou a presidente Dilma Rousseff a fazer previsões equivocadas sobre a economia durante as eleições, o ex-ministro disse que o governo e o mercado se enganaram, citando dados do Boletim Focus, do Banco Central, que capta perspectivas do mercado.
Nessa hora, ele culpou a “seca”, a “redução dos preços das commodities”, a “instabilidade política” e até a “Copa” pelo mau desempenho da economia brasileira a partir do ano passado.