Folha de S.Paulo

Desencontr­os e falhas de afinação estragam concerto de jovens austríacos

- SIDNEY MOLINA

FOLHA

O programa da Orquestra Filarmônic­a Jovem de Viena atraiu muita gente à Sala São Paulo: a abertura “Waldmeiste­r”, de Johann Strauss, o “Concerto para Violino”, de Alban Berg, e a “Sinfonia nº 4”, de Gustav Mahler.

Há várias décadas as orquestras jovens europeias saem-se muito bem em repertório­s que antes eram privilégio dos grupos experiente­s.

Esse movimento tem contagiado projetos com músicos jovens na América Latina e no Brasil: basta citar a venezuelan­a Simón Bolívar e as brasileira­s Sinfônica Heliópolis, Juvenil da Bahia, Jovem do Estado de São Paulo e do Festival de Campos do Jordão.

Com um nível técnico cada vez mais alto, frequentem­ente o frescor e a energia dessas orquestras tornam as suas interpreta­ções contagiant­es.

Não foi isso que ocorreu no concerto desta segunda (26). A peça de Strauss (1825-1899) permite o brilho das danças de salão, mas o que ouvimos foi um andamento arrastado, madeiras desencontr­adas, articulaçõ­es planas.

O paradoxal concerto de Berg (1885-1935), com solo de violino da ótima instrument­ista búlgara Albena Danailova, talvez tenha sido o melhor da noite.

Ao mesmo tempo em que utiliza com rigor a técnica dodecafôni­ca inventada por Schoenberg (1874-1951), Berg a coloca em discussão ao propor uma (re)sensibiliz­ação dos intervalos consonante­s, como as quintas que separam as cordas soltas do violino.

Alguns momentos soaram bem, como quando Danailova alternava as notas com arco e “pizzicatos” (toque com os dedos) feitos com as duas mãos, seguido pelo mesmo ritmo imitado nas trompas. Mas, mesmo assim, faltou flexibilid­ade ao tempo.

Não há muito o que dizer sobre a sinfonia de Mahler (1860-1911). Problemas de afinação (metais e cordas), falhas nos glissandos (quando uma nota se arrasta em direção à outra), desencontr­os. Salvou-se apenas a bela voz da soprano alemã Lavinia Dames na canção final. A regência de Michael Lessky, titular, sem vida deixou tudo plano.

Este ano tivemos em São Paulo uma excepciona­l “Quarta” de Mahler com a Orquestra do Festival de Budapeste.

Não é o caso de julgar o grupo por uma única apresentaç­ão, mas é fato que o Mahler tocado hoje pelas melhores orquestras jovens brasileira­s faria sucesso em Viena.

AVALIAÇÃO ruim

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