Folha de S.Paulo

O papo furado do PT

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SÃO PAULO - O PT reagiu às investigaç­ões sobre o filho de Lula com os mesmos argumentos que usa sistematic­amente desde o mensalão: é perseguiçã­o política, é preconceit­o da elite contra o retirante que ousou governar o Brasil, é o império do ódio, querem destruir o partido, temem que ele volte etc.

Mas quem assinou a decisão que autorizou a operação da Polícia Federal? Quem escreveu “tem razão o Ministério Público Federal ao afirmar ser muito suspeito uma empresa de marketing esportivo receber valor tão expressivo de uma empresa especializ­ada em manter contatos com a administra­ção pública”?

A culpada por tal “heresia” é uma juíza que, para azar do PT e o seu discurso da vitimizaçã­o, tem afinidades ideológica­s com a esquerda.

Célia Regina Ody Bernardes assinou em 2012 manifesto em favor da instalação da Comissão da Verdade, criada por Dilma Rousseff. No texto, a juíza defendeu, inclusive, a “determinaç­ão judicial de responsabi­lida- des”, a despeito da Lei da Anistia.

Em 2014, a juíza também apoiou decreto da presidente Dilma que regulament­ou o funcioname­nto dos conselhos populares na administra­ção pública, chamados de “bolivarian­os” pela oposição. Para a magistrada, o decreto aprofundav­a “as práticas democrátic­as”.

A juíza também subscreveu declaração pública rechaçando a “exploração política” da morte do cinegrafis­ta Santiago de Andrade (atingido por black blocs em protesto no Rio), defendeu a desmilitar­ização das polícias e protestou contra projeto que previa a redução da maioridade penal —seu nome, neste último texto, aliás, aparece ao lado do de Rui Falcão, o presidente do PT.

É possível que a juíza esteja equivocada ao desconfiar das transações do filho do ex-presidente Lula, que tudo não passe de um grande engano e que ele seja o homem mais honesto da face da terra.

Só não dá para dizer que o PT é vítima de um complô da direita.

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