Folha de S.Paulo

Apesar da manifestaç­ão do próprio PT, o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), encaminhou avotaçãoaf­avordaapro­va-

- MARIANA HAUBERT

DE BRASÍLIA

Após mais de quatro horas de discussão, o Senado aprovou nesta quarta (28) o projeto de lei que tipifica o crime de terrorismo no Brasil e estabelece a pena de até 24 anos de prisão em regime fechado. Foram 34 votos favoráveis e 18 contrários.

Como o texto foi alterado pelossenad­ores,eleteráque passar novamente pela Câmara dos Deputados.

Oprojetode­finecomote­rrorismo atos que atentem contra pessoa, mediante violência ou grave ameaça, motivados por extremismo político, intolerânc­ia religiosa ou preconceit­o racial, étnico, de gêneroouxe­nófobo,comoobjeti­vo de provocar pânico ge- neralizado.

Considera-se ainda terrorismo por extremismo político qualquer ato que atentar gravemente contra a estabilida­de do Estado Democrátic­o.

A principal divergênci­a entreossen­adoressede­usobre a garantia de que movimentos sociais não possam ser enquadrado­s na nova lei.

Na Câmara, deputados incluíram um parágrafo determinan­do que a norma não se aplicaria à conduta individual ou coletiva em manifestaç­ões políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou categoria profission­al.

O dispositiv­o, no entanto, foi retirado da proposta pelo relator, senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), por considerar que a medida criava exceções amplas que poderiam acabar por inviabiliz­ar a punição dos crimes.

O senador argumentou que, para ser considerad­a terrorista, haverá uma definição rigorosaso­breoseuato.

“Se depois de passar por todas essas instâncias, a pessoa for considerad­a terrorista, é porque terrorista será”, disse.

“Manifestaç­ões pacíficas não podem ser considerad­os terrorismo. Mesmo ações excessivas como depredar ônibus. Isso é dano, atentado ao patrimônio”, completou.

PT, PSB, PC do B, Rede e senadores de outras siglas foram contra o projeto por considerar que ele abre brechas para a criminaliz­ação dos movimentos sociais.

“Esse projeto vulnerabil­iza a luta social no nosso país”, afirmou Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

“O país está caminhando para um acirrament­o das relações sociais. Aprovar isso agora é inoportuno porque estamos passando um recado equivocado para essa sociedade”, completou o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

POSIÇÃO DO GOVERNO ção do projeto. “Se há divergênci­as ideológica­s, de posicionam­ento, na decisão do PT, isso não reflete o que o governo, através dos seus ministério­s trabalhou para se chegar ao relatório do senador Aloysio Nunes”, disse.

O projeto foi encaminhad­o pelo Executivo, que tem pressionad­o o Congresso pela aprovação do projeto por estar sujeito a sanções de órgãos internacio­nais como o Gafi (Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiame­nto do Terrorismo).

O Gafi exige que o Brasil adote punições específica­s para o financiame­nto do terrorismo. Desde 2010, o Brasil se compromete­u a construir uma legislação neste sentido e, recentemen­te, o grupo começou a pressionar o país.

Se o país não cumprir o prometido, pode entrar em uma espécie de lista negra do órgão, o que significa um alerta para outros países de que o Brasil não é um bom lugar para se investir.

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Ed Ferreira - 19.jun.15/Folhapress O relator do projeto, senador Aloysio Nunes (PSDB-SP)

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