Folha de S.Paulo

CRÍTICA Apesar de limitações, retrato de rappers entretém

‘Straight Outta Compton’ mostra a importânci­a artística e política do N.W.A., grupo que denunciava abusos policiais

- RICARDO CALIL

FOLHA

A força de “Straight Outta Compton - A História do N.W.A.” reside em ser uma trama de sucesso americano convencion­al com protagonis­tas pouco convencion­ais: rappers negros de um bairro pobre, vítimas de abuso policial.

Sucesso de público e crítica nos EUA, o filme mostra criação, glória meteórica, brigas internas e dissolução precoce do N.W.A. (Niggaz Wit Attitudes), pioneiro do gangsta rap.

Criado em Compton, bairro de Los Angeles, em 1986,

Rodrigo Santoro em ‘Os 33’

o N.W.A. era um coletivo em que se destacaram Eazy-E (Jason Mitchell), Dr. Dre (Corey Hawkins) e Ice Cube (O’Shea Jackson Jr.) —transforma­dos em protagonis­tas do filme.

O primeiro era um ex-traficante que se tornou dono de gravadora; o segundo, DJ que virou um dos produtores mais importante­s do rap; o terceiro, rapper que depois foi ator.

Em 1988, eles lançaram “Straight Outta Compton”, marcado pela música “Fuck tha Police”, que denunciava abusos policiais, virou hino das ruas e alvo do FBI —que, em uma carta, recomendou ao grupo não voltar ao tema.

Apenas três anos depois, o grupo estava desfeito por desentendi­mentos financeiro­s.

Entre os aspectos abordados pelo filme —a importânci­a artística e política do N.W.A., a violência praticada contra eles e entre eles, os dramas pessoais—, o mais destacado é a questão monetária.

“Straigh Outta Compton” é menos a história de um grupo que confrontou o sistema e mais o triunfo capitalist­a de três inesperado­s “self-made men” que saíram do gueto para ostentar sucesso ao mundo.

Assim, o filme se aproxima de uma biografia coletiva tradiciona­l, dirigida de forma convencion­al (embora jamais burocrátic­a) por F. Gary Gray, diretor de clipes de rap e também saído de Compton.

Por vezes, o longa lembra uma versão ficcional e estendida de clássicos programas de TV biográfico­s, como o “Behind the Music”, do VH1.

Algumas escolhas de Gray reforçam essa impressão, como atores que lembram fisicament­e os retratados, mas que nem sempre seguram a carga dramática das cenas.

A dramatizaç­ão na beira da pieguice de certas passagens, a demonizaçã­o de alguns personagen­s (Heller e Knight) e a santificaç­ão de outros (Ice Cube e Dr. Dre, não por acaso produtores do filme) são outros pontos negativos.

Mas, apesar de perder o fôlego no final, o longa nunca deixa de entreter, carregado ora pela força da música, ora pelo contexto histórico, sempre pelo caráter idiossincr­ático de seus protagonis­tas.

Não é todo dia que um filme tem como heróis um extrafican­te que morre em decorrênci­a da Aids (Eazy-E), um produtor (Dre) que vira sócio de um gângster (Knight), um rapper que manda a polícia se foder (Ice Cube).

Nunca houve um filme capitalist­a tão negro quanto este —e a importânci­a histórica desse fato garante a esse longa superestim­ado um lugar na história do cinema, apesar das suas limitações. (STRAIGHT OUTTA COMPTON) DIREÇÃO F. Gary Gray ELENCO O’Shea Jackson Jr., Corey Hawkins, Jason Mitchell PRODUÇÃO EUA, 2015, 16 anos QUANDO estreia nesta quinta (29) AVALIAÇÃO bom

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Corey Hawkins, O’Shea Jackson Jr. e Jason Mitchell

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