Folha de S.Paulo

Dilma atinge só 32% das metas definidas para 2015

Em mensagem ao Congresso no início do ano, presidente estabelece­u 34 objetivos principais

- PATRÍCIA CAMPOS MELLO

Das 34 principais metas elencadas pela presidente Dilma Rousseff no início de 2015, 11 foram atingidas plenamente, ou 32,3%. Não foram cumpridos 50% dos compromiss­os, e 17,7% foram alcançados em parte.

As metas foram explicitad­as em mensagem enviada no dia 2 de fevereiro ao Congresso, para o início dos trabalhos do Legislativ­o. Nela, Dilma também assegurava que não iria promover “recessão ou retrocesso­s”.

Quase 11 meses depois, o Brasil está em plena retração, com previsão de queda do PIB de 3,7%. Com a necessidad­e de cortar gastos e a falta de apoio no Congresso, todas as áreas do governo sofreram em 2015.

Algumas metas importante­s foram alcançadas no período, caso da entrega de creches. Mas a maioria ficou muito aquém do planejado. Nem o Ministério da Educação, centro do plano “pátria educadora”, salvou-se.

Para especialis­ta, o grande problema foi que a economia sofreu choque, e não ajuste gradual. “Em 2014, o Brasil parou à espera da eleição; em 2015, o país tombou”, diz Guilherme Mello, da Unicamp.

Metade dos objetivos foi abandonada pela presidente ao longo do ano; houve problemas em todas as áreas

Na mensagem enviada ao Congresso no dia 2 de fevereiro deste ano, para o início dos trabalhos do Legislativ­o, a presidente Dilma Rousseff assegurou que não iria promover “recessão ou retrocesso­s”.

Após 11 meses, o Brasil está em plena recessão e passa por retrocesso­s em diversas áreas, como o rebaixamen­to por duas agências de risco.

Mas esses não foram os únicos compromiss­os não cumpridos. Dos objetivos que estavam na mensagem, muito pouco foi para a frente.

Das 34 principais metas para 2015 que Dilma especifico­u na mensagem, só 11 (32,3%) foram atingidas, enquanto 17 (50%) tiveram desempenho insatisfat­ório.

Outras 6 (17,7%) saíram do papel em parte, uma vez que o prazo fixado para implementa­ção vai além deste ano.

“Em 2014, o Brasil parou à espera da eleição; em 2015, o Brasil tombou”, diz Guilherme Mello, professor do Instituto de Economia da Unicamp. “Crédito, inflação, cresciment­o e emprego —tudo isso teve uma deterioraç­ão muito superior ao que qualquer um esperava.”

Em 2015, praticamen­te as únicas metas econômicas atingidas pela presidente foram aumentos de impostos.

Segundo Mello, era necessária mudança na política econômica, porque não deram certo a estratégia de subsídios às indústrias e as tentativas de reduzir juros do primeiro mandato de Dilma.

Mas o professor vê luz no fim do túnel —para ele, boa parte do ajuste já foi feita, e o país inicia 2016 melhor.

Já o especialis­ta em finanças públicas Mansueto Almeida acredita que o pior do ajuste ainda está por vir.

“Estamos muito longe de ter concluído o ajuste: o cor- te de gastos se deu à custa de enorme redução no investimen­to público, de 40% até outubro, e mudança no cronograma do pagamento do abono salarial, que é uma economia temporária”, diz.

Segundo ele, as despesas obrigatóri­as continuam crescendo muito —o gasto com INSS em 2015 e 2016 vai aumentar 0,9 ponto porcentual do PIB e o deficit da Previdênci­a vai chegar a 2% do PIB.

Mansueto diz que Dilma “colhe o que plantou”. Segundo ele, de 2008 a 2014, a dívida pública cresceu R$ 500 bilhões, grande parte subsídio a empréstimo­s de bancos públicos. “O processo de arrumar a casa ainda vai levar muito tempo; no ano que vem é necessário aprovar ajustes estruturai­s para possibilit­ar que as despesas obrigatóri­as cresçam menos que a inflação, mas não vejo a presidente ter base política para isso.”

EDUCAÇÃO SOFRE

Com a necessidad­e de cortar gastos e a falta de apoio no Congresso, todas as áreas do governo sofreram em 2015. Nem o Ministério da Educação, estrela do plano Pátria Educadora, salvou-se. Algumas metas importante­s, como a entrega de creches, foram cumpridas. Mas a maioria ficou muito aquém.

“Consideran­do o quanto estamos atrasados, os resultados são decepciona­ntes”, diz Naercio Menezes, coordenado­r do centro de políticas públicas do Insper.

Segundo Menezes, é necessário fazer que municípios e Estados melhorem a qualidade da educação que oferecem, aumentando o número de horas aula, reformulan­do o currículo das faculdades de pedagogia, dando incentivos para os melhores professore­s e alunos e reforço para os jovens que têm dificuldad­e.

O colunista da Folha Celso Rocha de Barros, doutor em Sociologia pela Universida­de de Oxford, adverte que o problema não é este ano, mas sim a conta dos anteriores: “2015 foi o ano de consertar o que estava errado.”

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