Folha de S.Paulo

Governo faz manobras para fechar contas de 2015

Dividendos do banco estatal devem ajudar a cobrir R$ 57 bilhões em “pedaladas fiscais”

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O governo Dilma está às voltas com manobras legais para fechar o balanço do ano. A preocupaçã­o é pagar o que deve aos bancos federais por operações considerad­as irregulare­s pelo TCU, as “pedaladas”. Para ajudar a reduzir o rombo, o BNDES (banco de fomento) pagará R$ 4,8 bilhões em dividendos ao Tesouro.

O BNDES vai repassar R$ 4,8 bilhões em dividendos à União. Os recursos vão ajudar a pagar as chamadas “pedaladas fiscais”, dinheiro devido aos bancos públicos e ao FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).

Após o fracasso da tentativa de ajuste nas contas públicas, o governo Dilma Rousseff está às voltas com manobras legais para tentar fechar o balanço deste ano. A preocupaçã­o da administra­ção petista é, além de contabiliz­ar um rombo recorde no caixa de 2015, regulariza­r pagamentos em atraso que podem resultar em novos questionam­entos do TCU (Tribunal de Contas da União).

O governo alterou a legislação para transforma­r a meta de um superavit primário (receitas menos despesas, excluindo juros da dívida pública) de R$ 55,3 bilhões para um deficit entre R$ 62,9 bilhões e R$ 119,9 bilhões. A diferença entre os dois valores, de R$ 57 bilhões, correspond­e ao montante que o Tesouro deve aos bancos federais, relativos a operações considerad­as irregulare­s pelo TCU —as “pedaladas fiscais”.

Para fazer ao menos parte desse pagamento sem contar com a arrecadaçã­o necessária, o Executivo pretende utilizar dinheiro remanescen­te de superavits acumulados em anos anteriores.

Os recursos estão registra- dos na conta do Tesouro. Quando forem gastos, vão aumentar a quantidade de reais na economia. Para evitar o efeito inflacioná­rio dessa emissão de moeda, o governo deverá vender títulos da dívida pública, retirando reais em circulação e aumentando seu endividame­nto.

Para viabilizar essa manobra, foi editada no último dia 24 uma medida provisória autorizand­o o uso dos recursos da conta do Tesouro, incluindo receitas que originalme­nte estavam destinadas à área social. Outra resolução autorizou pagar R$ 35 bilhões a bancos federais e ao FGTS.

O Fundo de Garantia deve receber R$ 10,99 bilhões relativos ao atraso no repasse da multa adicional de 10% e de R$ 8,989 bilhões para cobrir subsídio ao programa Minha Casa, Minha Vida. O BNDES vai receber R$ 15,1 bilhões pelos subsídios aos empréstimo­s do PSI (Programa de Sustentaçã­o do Investimen­to).

Essas liberações devem cobrir cerca de 60% das “pedaladas”. Não há informação oficial, até o momento, sobre o pagamento do restante.

A oposição criticou a edição da medida provisória permitindo o uso de recursos do Tesouro para pagar despesas correntes. Em nota, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que o governo usa novamente de “truques contábeis” para pagar as “pedaladas”. Procurado, o BNDES não quis falar sobre o caso.

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Alan Marques - 22.dez.15/Folhapress Ministro Nelson Barbosa tenta fechar contas do governo

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