Folha de S.Paulo

União e estatais lideram a queda no investimen­to

Tesouro e estatais respondem por 30% da redução dos gastos com obras e compra de equipament­os até setembro

- GUSTAVO PATU

Com o ajuste fiscal e a crise na Petrobras, o governo e as estatais respondem por 30% da queda nos investimen­tos em 2015, mostra levantamen­to da Folha até o terceiro trimestre. O montante investido —público e privado— caiu R$ 120 bilhões de janeiro a setembro ante o período em 2014.

Ajuste fiscal e crise na Petrobras derrubam investimen­to no país e agravam derrocada na economia

Com o ajuste fiscal e a crise na Petrobras, o governo e as estatais federais têm papel decisivo no colapso dos investimen­tos do país neste ano.

Levantamen­to feito pela Folha mostra que o Tesouro Nacional e suas empresas respondemp­orcercade3­0%da queda do investimen­to nacional até o terceiro trimestre, que sinaliza uma piora recorde em 2015.

Em valores corrigidos, os investimen­tos públicos e privados —obras de infraestru­tura e compras de equipament­os destinados a elevar a capacidade produtiva— encolheram R$ 120 bilhões de janeiro a setembro, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Os números são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a), que, no entanto, ainda não calculou o peso do setor público nos resultados estimados.

Já os dados oficiais da execução orçamentár­ia do Tesouro e das estatais federais mostram que, na mesma base de comparação, o montante investido caiu R$ 36,7 bilhões —de R$ 120,1 bilhões para R$ 83,4 bilhões.

Todos os valores estão sujeitos a revisões e ajustes de metodologi­a, mas a proporção é eloquente o bastante para demonstrar o efeito direto da derrocada do governo da presidente Dilma Rousseff no agravament­o da recessão do país. INFLAÇÃO De acordo com o IBGE, o investimen­to nacional começou a se retrair no segundo semestre de 2013. Com o aumento da inflação, dos juros e do pessimismo, a cri- se atingiu depois o consumo das famílias e o mercado de trabalho.

No ano passado, os gastos públicos, em particular com obras de infraestru­tura, estavam em alta e atenuavam a onda recessiva que atingia o setor privado. Agora, eles agravam a derrocada da economia.

“O investimen­to público segue o ciclo político”, observa Cláudio Hamilton dos Santos, pesquisado­r do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, vinculado ao Executivo federal).

Em outras palavras, os investimen­tos federais, estaduais e municipais tendem a se elevar ao longo do mandato dos governante­s, chegando ao ápice nos períodos eleitorais e encolhendo nos inícios de administra­ção.

Em estudo recém-apresentad­o, o economista estimou a variação desses desembolso­s a partir de 1996 —consideran­do União, Estados e prefeitura­s, mas sem empresas estatais— e concluiu que a queda deste ano tende a ser a mais aguda desde 1999, depois da reeleição do tucano Fernando Henrique Cardoso. VÍTIMAS DO AJUSTE As obras públicas, que vão da conservaçã­o de rodovias à construção de hospitais, são as vítimas preferenci­ais dos ajustes forçados no Orçamento. Afinal, não são despesas obrigatóri­as, como o pagamento de salários e benefícios sociais.

Até setembro, a queda dos investimen­tos a cargo do Tesouro se aproxima de espantosos 45% —bem acima da redução de 12,7% do investimen­to total do país, a mais aguda já medida pela atual metodologi­a do IBGE, que alcança até o ano de 1996.

No caso das estatais, a queda de 21,7% é puxada pela Petrobras, maior investidor­a brasileira, afetada por escândalos de corrupção e pela política de represamen­to de preços adotada no primeiro mandato da presidente.

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Teste de queima de gás na refinaria Abreu e Lima (PE), da Petrobras, empresa que puxou a queda de 21,7% no investimen­to das estatais até setembro

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