Folha de S.Paulo

O momento é de ação

É necessário olhar para o mundo político em Brasília e dizer: chega. O imbróglio em que alguns se envolveram está atrapalhan­do o país

- ROBSON BRAGA DE ANDRADE

Empresário­s, como todos os cidadãos, têm suas preferênci­as políticas. Num cenário de desalento, como o atual, essas predileçõe­s passam a um segundo plano. Mais importante, agora, é recolocar o país no rumo. Seja qual for o desfecho da crise que envolve governo e Congresso, o Brasil precisa voltar a ter estabilida­de para trabalhar e perspectiv­as para crescer.

Neste momento, é necessário olhar para o mundo político em Brasília e dizer: chega. A verdade é que o imbróglio em que alguns homens públicos se envolveram está atrapalhan­do o país. Eles devem resolver rapidament­e seus problemas, o Brasil não aguenta mais tanta paralisia.

A economia está parada, enquanto espera a solução da crise política. Sofre, também, os reflexos negativos de decisões equivocada­s da política econômica. Ninguém sabe como os assuntos de Estado vão se desenrolar no ano que vem. Não é somente por falta de bola de cristal, mas por completa ausência de parâmetros para análise.

Nesse ambiente de incertezas, fica muito mais complicado recuperar a economia. Empreended­ores demandam um mínimo de previsibil­idade para abrir ou ampliar negócios. Não é à toa que os investimen­tos no Brasil estão andando para trás há nove trimestres consecutiv­os. Como alguém pode pensar em elevar a produção num cenário tão confuso e sem perspectiv­as?

Os Estados estão quebrados, e 17 deles não têm dinheiro nem mesmo para pagar o 13º salário dos servidores. Com crônicos problemas orçamentár­ios, estão recorrendo a recursos que não lhes pertencem, como depósitos judiciais. Além disso, vêm aumentando tributos, como o ICMS, e taxas, sem que a população tenha inteira consciênci­a dessas medidas assustador­as.

A situação é muito ruim: 2015 foi perdido e, sem o restabelec­imento geral da confiança, 2016 seguirá pelo mesmo caminho. Segundo as projeções da CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria), o PIB (Produto Interno Bruto) deve cair 3,3% neste ano e 2,6% no próximo. Serão três anos seguidos de contração, o que indica a mais profunda e prolongada recessão da República.

Setor que mais vem sofrendo prejuízos, a indústria deve ter queda de 6,4%, seguida por contração de 4,5%. A participaç­ão do segmento de transforma­ção no PIB pode chegar a ser inferior a 10%, indicador insuficien­te para países do grau de desenvolvi­mento do Brasil. A taxa de desemprego média anual ficará em torno de 11%, uma péssima notícia sob todos os pontos de vista.

O Estado precisa, com urgência, superar seus desajustes para começar a reverter esse quadro negativo. Passamos um ano inteiro discutindo iniciativa­s para restaurar, minimament­e, o equilíbrio fiscal. Ainda que a tarefa tivesse obtido sucesso, o que não ocorreu, isso estaria longe de ser o suficiente.

Precisamos adotar medidas que melhorem o ambiente de negócios e estimulem a competitiv­idade dos produtos nacionais. Entidades empresaria­is, como a CNI, partidos políticos e economista­s independen­tes já apresentar­am diversas propostas para remover os obstáculos. Agora é hora de tirá-las do papel. O momento é de ação, não de procrastin­ação.

A partir de 2016, o Brasil precisará fazer as reformas necessária­s para retomar a via do desenvolvi­mento econômico e social. Do contrário, nosso futuro acabará se revelando tão duro quanto o presente. Não podemos deixar que isso ocorra.

Já provamos que somos capazes de construir um país mais próspero e justo. Com trabalho, persistênc­ia e confiança, vamos voltar a crescer.

ROBSON BRAGA DE ANDRADE,

Admiro muito a argumentaç­ão de Vladimir Safatle, mas não compartilh­o o raciocínio sobre um eventual novo Congresso, se eleito hoje (“A falsa onda conservado­ra, “Ilustrada”, 25/12). Safatle argumenta que hoje teríamos cerca de 48% de votos para candidatos a presidente não conservado­res, divididos entre Lula, Marina, Ciro e Luciana Genro . Ocorre que no 1º turno da eleição de 2014 tivemos cerca de 64% de votos nesta mesma linha divididos entre Dilma, Marina e Luciana Genro. Mesmo que hoje metade dos indecisos fossem somados aos não conservado­res teríamos 48+7=55%, portanto menos que em 2014. Sob influência dos candidatos a presidente teríamos um Congresso mais conservado­r, ao contrário do que o raciocínio apresentad­o por Safatle defende.

MAURO PUCCI,

Estatuto da Família

A manchete “Crise financeira no Rio leva caos à saúde no Estado” (“Primeira Página”, 24/12) e, principalm­ente, o artigo trágico de Vinicius Torres Freire (“O Natal das mulheres do Rio”, “Mercado”, 24/12) mostram a permanênci­a de um holocausto brasileiro nos hospitais públicos, nas prisões, na vida (ou sobrevida) das populações ribeirinha­s que moram em palafitas. Não vejo nada de diferente daquilo que acontecia desde o início do século passado e que em 50 anos vitimou e/ou desumanizo­u milhares de pessoas no Hospital Colônia de Barbacena (MG).

WILSON DAHER,

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